Trump assume Presidência dos EUA: Impactos nas políticas comerciais e geopolíticas

Entenda as declarações polêmicas de Trump ao assumir a presidência e suas implicações para os direitos humanos e minorias

Rosa Freitas | Publicado em 22/01/2025, às 09h47

Donald Trump foi empossado como novo presidente dos Estados Unidos - Reprodução
Donald Trump foi empossado como novo presidente dos Estados Unidos - Reprodução

Por Rosa Freitas, em artigo enviado ao site Jamildo.com

O dia 20 de janeiro de 2025 foi um dia histórico: Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos e trouxe uma série de declarações que podem ser consideradas polêmicas.

Ele abordou questões de gênero e migrações, apresentando opiniões contrárias ao debate sobre minorias e direitos humanos.

No Brasil, as deportações em massa são vedadas pela Lei da Migração (Lei n.º 13.445/2017), e as questões de gênero contam com ampla proteção legal, incluindo a criminalização da transfobia.

Outras questões geopolíticas também estiveram em seu radar, assim como seu compromisso em salvar um império que enfrenta crise.

Neste texto, prefiro focar nas questões das interfaces comerciais e como os Estados Unidos, sob a direção de Trump, prometem proteger seu mercado interno, trabalho, produção, importações e exportações, além de utilizar os recursos energéticos que possuem.

Trump afirmou que irá taxar as importações que apresentarem cargas maiores, com a finalidade de proteger seu mercado e postos de trabalho. Essa não é uma novidade, visto que muitos países adotam tais práticas.

O Brasil, recentemente, em resposta à invasão de lojas de e-commerce estrangeiras, especialmente chinesas, passou a cobrar o Imposto de Importação (II) de quase tudo. Além do II, o Brasil também exige o ICMS e, no caso de serviços, o ISS, o que se mantém na reforma tributária: além do imposto de importação, o Brasil ainda cobrará o IBS/CBS dos produtos que entrarem no país.

Praticamente todos os países utilizam meios para tributar as importações; ao mesmo tempo, desestimulam a entrada de produtos e favorecem a inserção e competitividade de seus produtos nos mercados externos.
Voltando ao nosso tema: afinal, a "perseguição" de Trump está correta ou não?

Trump não pretende fazer nada que o Brasil ou outros países da OCDE já não estejam fazendo. A China promove uma série de ações e omissões (como a falta de proteção a seus trabalhadores e a ausência de normas trabalhistas e previdenciárias) que podem ser classificadas como dumping, ou seja, práticas de concorrência desleal que favorecem indevidamente produtos e serviços, promovendo práticas desleais no comércio internacional. O dumping pode ser classificado da seguinte forma:

1. O dumping econômico ocorre de várias maneiras, mas vamos explicar a questão da moeda: a China mantém o câmbio fixo e desvaloriza sua moeda interna, o yuan, de forma que seus produtos são sempre mais baratos em comparação aos de outros países concorrentes. Com essa prática de desvalorização cambial, a China pode oferecer preços baixos e competitivos.

Nenhuma indústria do mundo consegue competir com a China. Mesmo que não seja abertamente declarado, nossa sobretaxação das blusinhas visa nosso principal parceiro comercial: a China. As exportações para a China atualmente equivalem a quase três vezes as exportações para o segundo parceiro, os EUA. A artificialidade do câmbio e o capitalismo de estado chinês são obstáculos difíceis de serem superados. Trump está certo sobre isso? Sim!


2. O dumping social é outra questão importante: os trabalhadores chineses ganham muito pouco e não têm proteção trabalhista. O trabalhador chinês é barato e trabalha muito mais do que qualquer outro trabalhador formal do mundo desenvolvido ou em desenvolvimento. Assim, todos os seus produtos são mais baratos e geram desajustes competitivos entre a China e outros países.

O Brasil, apesar da pejotização, precarização e reforma trabalhista, ainda possui um guarda-chuva social muito melhor do que o chinês. Apesar de os Estados Unidos também não serem exemplo de proteção social, o trabalhador americano ganha muito mais do que o chinês. Trump está certo sobre isso? Sim!

3. O que mais assustou a crítica internacional foi a declaração de que os Estados Unidos não participarão da transição energética nem cumprirão acordos ambientais. E, novamente, ele afirma que não pode cumprir os protocolos se a China não os cumprir. Trump estava certo novamente.

O que a China pratica também é dumping na categoria ambiental. Com baixos níveis de proteção ambiental, altas emissões de carbono na atmosfera e, pior, investimentos em monoculturas no mundo, a China polui sem qualquer pudor.

É claro que a posição de Trump não merece aplausos, mas não é possível que alguns países operem suas economias enquanto outros poluem e lançam produtos no mercado a preços muito mais baixos.

Recentemente, o Brasil tem enfrentado tensões com a União Europeia. Firmado o compromisso entre Mercosul e União Europeia, a Europa resistiu à invasão dos produtos alimentícios sul-americanos, em especial a carne.

O estado francês protege seus pequenos produtores que abastecem seus mercados, enquanto nós, com amplos campos, poderíamos criar bois soltos. Outro exemplo é que o Brasil ainda está engatinhando no mercado de carbono, enquanto a Dinamarca cobra cerca de US$ 100 por ano de cada boi criado em seu território.

Outro ponto que Trump abordou foi a luta para manter o dólar como moeda de conversão. Essa é uma luta inglória e muito provavelmente perdida. Muitos países já estão contratando com outros padrões, e os BRICS vão lançar sua própria moeda. A desdolarização da economia mundial vai ocorrer, não sem protestos americanos.

Não considero polêmica a questão do desincentivo ao carro elétrico. Ainda temos muito a fazer para tornar essa opção a melhor escolha. Os carros elétricos são caros, têm autonomia limitada, carecem de infraestrutura de abastecimento, apresentam problemas de descarte de baterias poluidoras, baixo valor de revenda, alto custo de manutenção, desvalorização e outros fatores.

É também salutar que o Brasil não pretenda incentivar seu uso na reforma tributária. O debate prossegue, e o que o Brasil importou da China não teve a procura esperada.

Trump, longe de ser "correto", está "certo", pelo menos em parte, sobre as medidas que pretende adotar. Contudo, Trump está errado ou resiste ao que é óbvio: todo império tem começo, meio e fim.

O que também fica muito claro é que os partidos mais a esquerda tem imensas dificuldades de dialogar com as classes trabalhadoras, com as pautas conservadoras de costumes e as minorias. O tom de suas provocações é que vai ditar o rumo dos debates nos próximos quatro anos.

@blogdojamildo