Para o jornalista Ricardo Leitão, Bolsonaro está feliz com vitória de Trump por apostar que eleição do aliado americano ajuda situação no Brasil
Por Ricardo Leitão | Publicado em 16/11/2024, às 19h59 - Atualizado às 20h17
Por Ricardo Leitão, especial para o site Jamildo.com
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL/SP), filho do ex-presidente, foi um dos 85 convidados de Donald Trump para acompanhar a apuração dos votos da eleição presidencial dos Estados Unidos. Um grupo seleto, que teve direito às mordomias na mansão do presidente eleito na Flórida. Bolsonaro pai não estava por lá.
Mas do Brasil se derramou em um e-mail para Trump, imediatamente após o fim da votação: “Que sua vitória inspire o Brasil a seguir o mesmo caminho”, escreveu. “Talvez em breve Deus nos conceda a chance de concluir nossa missão e nos devolva tudo o que foi tirado de nós”.
Eduardo Bolsonaro não integrou por acaso a lista dos convidados de Trump para a festa da vitória. Desde o desgoverno de seu pai, ele foi escalado para representar a família nas articulações internacionais da direita.
Tornou-se interlocutor do presidente eleito dos Estados Unidos e de seu principal estrategista, Steve Bannon. Foi Bannon quem aconselhou o ex-presidente a contestar o resultado da eleição brasileira em 2022, ação preparatória da tentativa bolsonarista de golpe em janeiro de 2023.
A base de centro-esquerda, que dá sustentação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusou o golpe. Para Gleisi Hofmann, presidente do PT, “a extrema direita vem agora com tudo. Temos que nos preparar para o enfrentamento, como fizemos em 2022”, divulgou nas redes sociais.
“Precisamos dar respostas concretas às necessidades do povo, que não cabem na agenda neoliberal que querem impor ao governo e ao País”. Com maior ou menor intensidade, a reação se repete entre outras lideranças da esquerda brasileira e é compartilhada por partidos políticos progressistas da Europa.
A eleição de Trump, colocando-o à frente de uma potência econômica e militar como os Estados Unidos, muda a correlação internacional de forças e pode influenciar mudanças a favor da direita em todo o mundo.
O que pode acontecer no Brasil? Inelegível até 2030, Bolsonaro se empenha intensamente para ser anistiado e disputar a eleição presidencial de 2026. É uma meta improvável. Ele foi condenado pela Justiça Eleitoral, por duas ações, ambas em 2023: a primeira, pela reunião, no Palácio do Alvorada, com embaixadores, para deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro; a segunda, pelo uso do 7 de Setembro de 2022 para fazer campanha eleitoral.
Uma eventual anistia dependeria de aprovação na Câmara dos Deputados e no Senado; veto ou sanção do presidente Lula e, em seguida, aprovação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar dessas baixas perspectivas, Jair Bolsonaro não recua e acredita ter sólidas razões. Ele sabe – e as pesquisas comprovam – que é o único líder popular da direita capaz de ir às ruas e enfrentar Lula, por exemplo. Por outro lado, precisa parecer um político influente e competitivo para impedir que outros concorrentes da direita ganhem musculatura, apostando no seu enfraquecimento.
Ostentar uma relação direta com Donald Trump faz parte dessa estratégia, além de cevar a ideia de que é possível eleger, novamente, um radical para a presidência. O ex-presidente vai puxar essa corda até o limite do esgarçamento.
O desafio é que as urnas de outubro de 2026 estão logo ali. Os partidos de centro-direita venceram as eleições municipais deste ano e o bolsonarismo teve uma grande vitória em São Paulo. No entanto, candidatos apoiados pessoalmente por Bolsonaro em importantes colégios eleitorais – como o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, o Recife e Fortaleza – foram derrotados.
O ex-presidente conta a seu favor com o desgaste da esquerda nas cidades com até 200 mil eleitores e a fragilidade momentânea do governo Lula. Por fim, soma a influência de Donald Trump.
Pode-se argumentar que, às voltas com a “revolução” nos Estados Unidos, o novo presidente norte-americano não teria tempo para questões menores da América do Sul. Talvez um engano.
Trump já tem um pé na Argentina com o neoliberal anárquico Javier Milei e não teria dificuldades de fincar o outro pé no Brasil, em um governo bolsonarista. Na agenda de Bolsonaro, não apenas Trump é bem-vindo, mas também o capitalismo selvagem, os agrotrogloditas e o negacionismo ambiental.
Não custa lembrar que essa agenda foi aprovada pelos eleitores brasileiros em 2018 e quase novamente vitoriosa em 2022.
Jair Bolsonaro quer a revanche, como queria Trump e conseguiu. Se não reverter a sua inelegibilidade, vai lançar o filho Eduardo candidato à Presidência da República, em 2026. Participará da campanha – não está impedido - e aguardará sua vez em 2030.
Pode lançar outro filho, Flávio Bolsonaro, candidato a governador do Rio de Janeiro e a mulher, Michelle, a deputada federal por São Paulo.
Delírio?
Quem diria que um capitão do Exército, processado por planejar ataque terrorista, bajulador de torturadores, fomentador de ódio político, venceria uma eleição presidencial? Leve tudo isso muito a sério: Jair Bolsonaro está feliz.
Leia também
@blogdojamildo