Sinpol pede ajuda para reforço na segurança do Cabo de Santo Agostinho

Presidente do Sinpol, Áureo Cisneiros fala sobre situação da violência no Cabo de Santo Agostinho

Áureo Cisneiros | Publicado em 01/07/2025, às 10h20 - Atualizado às 10h53

Líder do sindicato dos policiais civis de Pernambuco fala sobre situação da segurança no Cabo de Santo Agostinho
Líder do sindicato dos policiais civis de Pernambuco fala sobre situação da segurança no Cabo de Santo Agostinho

O Cabo de Santo Agostinho, uma das principais cidades da Região Metropolitana do Recife, é hoje uma das mais violentas do mundo.

Esse triste título não é fruto do acaso, mas resultado direto do abandono da segurança pública, especialmente da Polícia Civil, que deveria ser o pilar da investigação criminal e da repressão qualificada ao crime organizado.

A estrutura física do plantão policial do município retrata com perfeição esse descaso. O prédio está em situação precária, com infiltrações, mofo, problemas elétricos, falta de acessibilidade e sem qualquer condição mínima para o trabalho policial ou o atendimento digno à população.

Diante desse cenário de calamidade, o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (SINPOL-PE) acionou a Justiça solicitando a interdição imediata da unidade.

Falo com propriedade: em 2023, quando fui reintegrado ao serviço, trabalhei pessoalmente no plantão do Cabo. Vi de perto e senti na pele como é exercer a função em um ambiente totalmente insalubre, improvisado e indigno. Não há estrutura mínima para o policial trabalhar com segurança, tampouco para atender com respeito o cidadão que busca justiça.

Mas o problema não se limita ao plantão. A DESEC (Delegacia Seccional), a Delegacia de Homicídios e a Delegacia Municipal também funcionam em uma casa alugada, sem qualquer estrutura adequada para operar como unidades policiais. É uma situação vergonhosa, incompatível com a gravidade da criminalidade na cidade.

A crise é agravada por um efetivo profundamente defasado — estima-se que falte mais de 50% do quadro necessário de policiais civis. Os poucos profissionais que permanecem em atividade estão sobrecarregados, enfrentando uma rotina estressante, sem condições básicas de trabalho e sem o mínimo de suporte para combater o crime organizado.

E os números comprovam o colapso: em 2022, o Cabo registrou 66,9 homicídios por 100 mil habitantes, colocando-se entre as cidades mais letais do país. Só no primeiro semestre de 2024, foram 93 assassinatos, um aumento de 55% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Áreas antes pacíficas, como Suape, Enseada dos Corais e Gaibu, estão hoje dominadas por facções criminosas, com tráfico de drogas, toque de recolher e violência diária.

Recentemente, o prefeito do município foi até a governadora Raquel Lyra solicitar providências diante da gravidade da situação. Pagando essa deixa, o SINPOL-PE também se dirige à governadora, cobrando uma ação imediata para resolver o problema estrutural e de pessoal da Polícia Civil no Cabo. Raquel Lyra, que já foi delegada da Polícia Federal, conhece de perto a importância de uma polícia técnica, bem equipada e valorizada.

O que se espera do Governo do Estado é mais do que discursos: é compromisso concreto com a vida das pessoas e com a valorização dos servidores da segurança pública. O Cabo não pode mais esperar. A cidade pede socorro. E o Estado tem o dever de agir.

Investir em segurança pública vai além de armas e viaturas: é garantir instalações dignas, efetivo suficiente, inteligência investigativa e respeito aos profissionais que arriscam suas vidas todos os dias.

A população não pode continuar sendo prisioneira do medo, enquanto a criminalidade avança e o Estado se omite.