Pablo Marçal para presidente?

Pablo Marçal pode ser presidente? Ele agitou a campanha em São Paulo e disse que queria ser presidente depois de ser prefeito de SP

Ricardo Leitão* | Publicado em 10/10/2024, às 09h40

Pesquisas mostraram crescimento de Marçal, que chegou a passar Nunes, antes de dar um tiro no pé - Leandro Torres/Divulgação
Pesquisas mostraram crescimento de Marçal, que chegou a passar Nunes, antes de dar um tiro no pé - Leandro Torres/Divulgação

Por Ricardo Leitão, em artigo especial para o Blog do Jamildo

No primeiro turno da eleição para a prefeitura de São Paulo – a mais importante cidade do País –, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, recebeu 29, 4% dos votos; o segundo colocado, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), registrou 29% e o empresário Pablo Marçal (PRTB), 28,1%.

Por menos de um ponto percentual, Marçal não passou para o segundo turno, mas demonstrou força eleitoral inconteste: não teve horário político no rádio e na televisão, um exército de candidatos a vereador para divulgar suas propostas, nenhum apoio de padrinhos importantes.

Nada disso faltou a Nunes e a Boulos, principalmente padrinhos. O prefeito contou em seu palanque com o governador Tarcísio de Freitas e o ex-presidente Jair Bolsonaro; o deputado federal com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O desempenho surpreendente de Marçal o transforma em nova opção da direita para a eleição presidencial de 2026? Por enquanto, seus concorrentes seriam o governador de São Paulo – principalmente se Nunes vencer no segundo turno –, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.

Os dois primeiros já admitiram disputar a presidência. Inelegível até 2030, por envolvimento em articulações golpistas, Bolsonaro não poderá se candidatar, no entanto, está livre para participar da campanha e liderar a oposição ao candidato da esquerda – Lula, no momento.

Pablo Marçal, porta-voz da direita pós-Bolsonaro, surfa nessas ondas tormentosas. José Dirceu, arguto observador de horizontes, considera que perto dele, o ex-presidente é um “bobo da corte”.

Para o ex-ministro da Casa Civil de Lula, Bolsonaro era um sindicalista militar que defendia a agenda da ditadura, capturou a pauta conservadora de costumes, o discurso antipetista e se beneficiou da divisão da esquerda. “Marçal vai ser candidato a Presidência da República”, acredita Dirceu.

“Não sei como, se avançará só ou adotado por alguma legenda”. Caso alguma forma se viabilize, não lhe faltarão legenda e recursos – como não faltaram a Bolsonaro em 2018 e 2022.

Empresário do segmento de autoajuda, Pablo Marçal cresceu aos saltos na campanha de São Paulo, investindo em dois caminhos: divisão do voto bolsonarista, reduzindo o apoio desse pedaço da direita a Nunes, e o uso intenso e competente das redes sociais, compensando sua ausência no horário eleitoral. No final do primeiro turno, tinha 13,2 milhões de seguidores, três vezes mais do que a soma de seguidores de seus adversários.

Outsider, colocou-se permanentemente acima dos partidos e dos políticos; difundiu o valor do empreendedorismo individual e combateu a presença do Estado e de suas organizações na economia; disseminou valores conservadores por meio de choques midiáticos e células familiares militantes. Usou como exemplo de sucesso a sua própria vida: menino nascido em uma favela de São Paulo que hoje é milionário, tendo bancado todos os custos de sua campanha.

Marçal demonstrou não ter qualquer escrúpulo na caça ao voto. Pagou para que eleitores dessem depoimentos ao seu favor nas redes sociais; agrediu adversários nos debates; assessor seu esmurrou assessor de Nunes em estúdio de televisão e na reta final publicou um laudo falso para tentar associar Boulos ao uso de cocaína.

A tentativa de fraude pode levar Marçal à condenação por falsificação de documento particular, uso de documento falso e calúnia eleitoral. O escândalo, que dominou o debate nos últimos dias do primeiro turno, pode ter bloqueado a sua passagem para o segundo.

Contudo nada parece abalar as pretensões presidenciais do novo ícone da direita brasileira. Ele assunta a maçaranduba do tempo – como se ensina no Nordeste profundo - e pode enxergar bons sinais. Partidos conservadores como o PSD, União Brasil e PL elegeram mais prefeitos no primeiro turno e têm condições de repetir o desempenho no segundo, inclusive nas capitais.

Nelas, no primeiro turno, o PSB só elegeu um prefeito – João Campos, no Recife – e o PT, nenhum. É possível que depois da apuração do segundo turno, em 27 de outubro, saia das urnas um Brasil de direita e de centro, a ser disputado em 2026 por uma frente de direita e outra de esquerda.

Pode ser bom para Pablo Marçal, na hipótese de ele conseguir unir a direita e o centro e se mostrar como o único nome com apoio popular suficiente para vencer a esquerda, em uma campanha inevitavelmente polarizada.

Seu maior desafio é vencer a desconfiança que tem a chamada direita democrática em relação a ele. Um exemplo é a reação, até da família do prefeito Ricardo Nunes, quando se cogitou a busca de seu apoio no segundo turno da eleição de São Paulo.

Porém, caso a sucessão de Lula se encaminhe firmemente para a esquerda, Marçal poderá ser empurrado goela abaixo da direita.

São gigantescos os interesses nacionais e internacionais em torno de uma eleição presidencial no Brasil. Eles foram capazes de articular uma tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, logo após a posse de Lula. E serão capazes de empossar Pablo Marçal no Palácio do Planalto e depois transformá-lo em um presidente domesticado.

Como costumam dizer os comentaristas políticos, a conferir.

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