Onda de endividamento por apostas afeta beneficiários do Bolsa Família e acende alerta econômico

Com R$ 3 bilhões gastos em apostas apenas em agosto, beneficiários do Bolsa Família comprometem renda e ampliam crise de inadimplência

Yan Lucca

por Yan Lucca

Publicado em 25/09/2024, às 13h52

A Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços entrou no STF com uma ação de inconstitucionalidade da lei que permite as apostas no Brasil - Foto: Bruno Peres / Agência Brasil
A Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços entrou no STF com uma ação de inconstitucionalidade da lei que permite as apostas no Brasil - Foto: Bruno Peres / Agência Brasil

Jamildo Melo para a CBN Recife (105,7 FM) — "Fala, Jamildo" de 25 de setembro de 2024

No mês passado, tive um jantar aqui no Recife com Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC). Entre outros temas do setor, ele me falou sobre a preocupação com o avanço dos empréstimos consignados. Ao comprometer boa parte da renda dos brasileiros, esses empréstimos acabam por dificultar a compra da casa própria.

Fiquei pensando nisso nesta terça-feira, quando o Banco Central informou que os beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas só em agosto. Um completo absurdo.

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Lula afirmou que o endividamento das pessoas mais pobres com apostas é um problema que o governo precisa regular.

O valor medido pelo Banco Central representa 20% do total pago pelo programa Bolsa Família no mês passado. As pessoas estão tirando recursos da subsistência para apostar? Minha santa avozinha Dona Carmem sempre me dizia: "Tudo demais é veneno!"

Um estudo do Itaú, em 2024, indicou que 7 milhões de brasileiros estão endividados por causa de jogos de apostas online.

Dados do Instituto Locomotiva, de setembro de 2023, apontam que ao menos 33 milhões de pessoas em estado de vulnerabilidade financeira já fizeram apostas esportivas.

Entre elas, 22 milhões costumam apostar ao menos uma vez por mês, o que consome cerca de 20% do orçamento das famílias de baixa renda.

Qual o problema dessa jogatina desenfreada?

Nesta quarta-feira (250, a Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços (CNC) entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação de inconstitucionalidade da lei que permite as apostas no Brasil, a chamada "Lei das Bets".

Com bastante preocupação, a CNC alega que esse endividamento das famílias está levando uma parte significativa da sociedade a um comportamento financeiro de altíssimo risco, prejudicando consideravelmente a economia doméstica, especialmente o varejo.

A prática poderá evoluir para um comportamento compulsivo por parte de alguns indivíduos, principalmente entre aqueles que veem nas apostas uma solução rápida para suas dificuldades financeiras.

Lembro aqui aos nossos queridos leitores a oposição dos evangélicos à liberação dos cassinos no Brasil.

É óbvio que o aumento de gastos com apostas afeta o consumo, mas não é só isso.

O aumento das apostas também impacta a saúde pública, com consequências negativas na saúde mental, diante da influência dessas práticas na vida das pessoas.

Além disso, as apostas prejudicam o acesso ao crédito. O endividamento gera inadimplência, o que dificulta e encarece o acesso a financiamentos.

O sistema de crédito já deu o alerta, e o comércio está corroborando. Vamos ver qual será a resposta da classe política, depois de terem legalizado parte desse circo.

Acompanhe o CBN Total desta quarta-feira (25/09)

Ministro Wellington Dias esclarece: verba do Bolsa Família não vai para apostas online

Nesta quarta-feira (25), o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, comentou em nota, sobre as informações divulgadas pelo Banco Central de que beneficiários do Bolsa Família teriam feito apostas online em agosto.

"Após receber a informação por parte do Banco Central sobre as apostas online (BETS), solicitei esclarecimentos ao Ministério da Fazenda. É importante lembrar que os programas sociais de transferências de renda foram criados para garantir a segurança alimentar e atender às necessidades básicas das famílias, das pessoas em situação de vulnerabilidade. A prioridade sempre será combater a fome e promover a dignidade para quem mais precisa.

Quanto à questão das BETS, sabemos que há uma proposta em andamento para a regulamentação desse mercado, e tenho certeza de que o governo federal, ao tratar desse tema, levará em consideração a proteção dos mais vulneráveis e os impactos sociais que possam surgir.

Vou acompanhar a regulamentação e encontrar mecanismos para evitar que dinheiro dos benefícios sociais sejam utilizados em jogos.

Nosso foco permanece firme: garantir que o Bolsa Família continue sendo um instrumento eficaz de combate à pobreza e à insegurança alimentar. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que esse objetivo se mantenha."

@blogdojamildo