Artigo de Nilo Otaviano e Ademir Araújo (Maestro Formiga), sobre a Banda de Música da Polícia Militar de Pernambuco
por Nilo Otaviano e Ademir Araújo (Maestro Formiga)
Publicado em 10/12/2025, às 14h57 - Atualizado às 15h00
A Banda de Música da Polícia Militar de Pernambuco, oficialmente conhecida como Companhia Independente de Música da PMPE (CIMPM), transcende sua função militar para se consolidar como um dos mais preciosos patrimônios culturais do estado. Com uma trajetória que se estende por mais de um século e meio, esta instituição não é apenas um conjunto musical; é um guardião da memória, um difusor de tradições e um elo vital entre a corporação e a sociedade pernambucana.
Sua presença em solenidades cívicas, eventos culturais e, sobretudo, na preservação e difusão do frevo a elevou, ao longo de décadas, a um patamar de relevância inestimável. Contudo, este legado centenário encontra-se hoje sob grave ameaça, exigindo uma intervenção imediata e decisiva.
Fundada em 5 de novembro de 1873, por decreto da então Província de Pernambuco, a Banda de Música da PMPE celebra, em 2025, seus 152 anos de ininterrupta atividade. Ao longo de sua rica história, a Banda foi palco de talentos e dedicação, sendo um dos mais notáveis o do Capitão José Lourenço da Silva, o imortal Capitão Zuzinha.
Maestro e regente em meados do século XX, Capitão Zuzinha elevou o patamar artístico da Banda, transformando-a em referência nacional e um dos pilares da música pernambucana, especialmente no que tange ao frevo. Seu legado é tão profundo que a Banda hoje ostenta seu nome, e uma medalha de mérito musical militar perpetua sua memória, concedida a personalidades que contribuem para a música e a corporação.
Apesar de sua importância histórica e cultural inquestionável, a Banda da PMPE enfrenta uma situação crítica que compromete sua capacidade de atuação e sua própria existência. O cerne do problema reside na ausência de renovação de seu quadro de músicos: o último concurso público para admissão de novos integrantes foi realizado, smj, há algo em torno de duas décadas.
Esta lacuna administrativa gerou um cenário preocupante. A Banda opera hoje com um efetivo muito aquém do necessário para cumprir suas múltiplas funções, resultando em:
A Banda de Música da PMPE, desde o surgimento do frevo, sempre desempenhou um papel importantíssimo na preservação e difusão do frevo, gênero musical que, desde 2012, é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Ao longo de mais de um século, a Banda foi um dos veículos que mais contribuiu para a popularização do frevo, quiçá da sua própria existência, mantendo viva a tradição da maior manifestação artística e cultural pernambucana. Além de elemento essencial do carnaval pernambucano.
A ausência de músicos e a fragilização da Banda representam, portanto, um elemento a considerar quando falamos em dificuldades de salvaguarda deste patrimônio. Uma instituição robusta e com efetivo completo, capaz de albergar novos instrumentistas, com capacidade de inovação e de alcance da excelência necessária para a execução de rico repertório, em especial do frevo, sem dúvida, ajudará a manter a própria identidade musical de Pernambuco.
Diante deste cenário, a realização de um novo concurso público para admissão de músicos na Banda da PMPE não é apenas uma necessidade administrativa, mas um imperativo cultural e histórico. É a única via para reverter o processo de esvaziamento, garantir a renovação do quadro, preservar o conhecimento musical acumulado e assegurar a continuidade da Banda como um pilar da cultura pernambucana.
Este concurso deve ser abrangente, contemplando vagas para os diversos instrumentos que compõem uma banda militar, e deve ser tratado com a máxima urgência pelas autoridades competentes. Basta, para tanto, acrescer algumas dezenas de vagas, para jovens com formação musical, no próximo concurso para a Polícia Militar de Pernambuco.
É fundamental que os governantes e parlamentares de Pernambuco compreendam a gravidade da situação e a responsabilidade que lhes cabe. A Banda de Música da PMPE não é apenas uma unidade militar; é um bem cultural do estado, um símbolo de sua identidade e um instrumento de cidadania.
Apelamos veementemente às autoridades estaduais para que:
A inação neste momento significaria negligenciar um patrimônio de 152 anos, silenciar uma das vozes mais autênticas de Pernambuco e comprometer o futuro de um gênero musical que é orgulho nacional e mundial.
Temos certeza de que este apelo ressoará no Palácio do Campo das Princesas e na Casa de Joaquim Nabuco e surtirá o efeito positivo que redundará na renovação e na valorização da Banda da Polícia Militar de Pernambuco.
A Banda de Música Capitão Zuzinha é um tesouro que Pernambuco não pode se dar ao luxo de perder. Sua história, seu legado e sua contribuição para o frevo e para a formação cidadã são inestimáveis. O silêncio que hoje ameaça seus instrumentos é um alerta para todos nós.
É hora de agir. É hora de garantir que a melodia da Banda da PMPE continue a ecoar por muitos séculos, inspirando novas gerações e celebrando a rica cultura de Pernambuco. Que a voz da razão e da cultura prevaleça, e que o som vibrante da Banda volte a ressoar em sua plenitude.