Inácio Feitosa - "A didática do professor ruim... Versão 2025"

Inácio Feitosa fala sobre a versão atualizada do professor ruim em um mundo marcado pelo Tiktok e inteligências artificiais

Inácio Feitosa | Publicado em 07/05/2025, às 07h26 - Atualizado às 16h31

Professores agora precisam conviver com outras redes sociais, o avanço da inteligência artificial, etc - José Cruz/ Agência Brasil
Professores agora precisam conviver com outras redes sociais, o avanço da inteligência artificial, etc - José Cruz/ Agência Brasil

Sim, ele ainda existe — e, pasme, parece que evoluiu. Este artigo é uma atualização bem-humorada (e nem por isso menos crítica) de um capítulo publicado originalmente no meu livro de 2010. De lá pra cá, o mundo mudou bastante: o Orkut virou pó digital, o ensino híbrido chegou, a inteligência artificial virou colega de trabalho, e a sala de aula ganhou tablets, lousas digitais e Wi-Fi instável. Mas o professor ruim... ah, esse permanece firme e forte.

Se em 2010 ele já era um problema, em 2025 ele virou quase uma entidade mitológica da educação: o professor que resiste ao tempo, à inovação e à própria didática. Um verdadeiro patrimônio da má pedagogia.

O professor ruim do século XXI continua entrando em sala de aula sem plano, sem propósito e sem paciência. Ele ignora a existência de metodologias ativas, continua fiel ao datashow (agora aposentado) e faz da aula um monólogo exaustivo, como se estivesse em um podcast que ninguém assinou.

Ele acredita que repetir slides com voz entediada é ensinar. Que dar aula sem ouvir os alunos é autoridade. Que avaliação se resume a "pegar de surpresa" ou "dar um trabalhinho" e, claro, que chamada é uma relíquia da burocracia — melhor confiar na sorte e corrigir nomes na hora da prova.

Mais grave ainda: o professor ruim de 2025 não interage com a realidade dos alunos, não se atualiza, não pesquisa. Ele pode até ter feito um doutorado, mas passa longe de entender o básico da comunicação com essa geração pós-TikTok e IA. Aliás, se dependesse dele, ainda estaríamos usando retroprojetor e chamando celular de “má influência”.

E, mesmo assim, em muitas instituições, ele permanece intocável. Às vezes homenageado, às vezes temido, mas quase sempre ignorado nas avaliações institucionais, que são preenchidas por estudantes tão desiludidos quanto ocupados.

É claro que há exceções. Há professores que brilham, que reinventam o ensino, que encantam. Mas esses não são o tema deste texto. Aqui falamos daquele que, mesmo em tempos de ChatGPT, ainda não entendeu o poder de uma aula bem dada.

Ensinar é, sim, uma arte. E como toda arte, exige prática, estudo e sensibilidade. Não basta "dar aula" — é preciso criar conexões, provocar reflexões e, acima de tudo, respeitar o tempo e o aprendizado do outro.

Então, se você se reconhece em alguns desses trechos, fica o alerta: ainda dá tempo de mudar. Mas se nada disso fizer sentido pra você… bem, talvez você seja o protagonista deste texto.

Inácio Feitosa, advogado, diretor-geral da Editora da OAB-PE e diretor-fundador do Instituto IGEDUC