Jamildo Melo | Publicado em 02/12/2025, às 10h55 - Atualizado às 11h04
Em artigo publicado na Folha de São Paulo, o cientista político Antônio Lavareda argumenta que, apesar da forte presença do tema segurança pública no debate cotidiano, ele não deve se tornar o eixo central das eleições presidenciais de 2026.
Lavareda sustenta que há uma diferença histórica e estrutural entre a importância do tema para a opinião pública e sua capacidade real de moldar o comportamento eleitoral em disputas federais.
Segundo ele, segurança é um problema percebido como grave — e frequentemente apontado como prioridade pelo eleitor em pesquisas —, mas não costuma definir escolhas presidenciais no Brasil.
O primeiro ponto destacado é que políticas de segurança dependem majoritariamente dos governos estaduais, responsáveis pela Polícia Militar, Polícia Civil e parte substantiva da prevenção e repressão criminal.
Dessa forma, mesmo em momentos de crise, o eleitor tende a atribuir responsabilidade direta aos governadores, e não ao presidente.
Para Lavareda, isso reduz consideravelmente a eficácia de promessas federais sobre segurança, que o eleitor sabe serem limitadas pela divisão de competências.
Outro ponto central do artigo é que disputas presidenciais no Brasil costumam gravitar em torno de questões macroeconômicas e de bem-estar social, como inflação, emprego, renda e programas sociais.
Esses temas, segundo o autor, impactam o cotidiano imediato do eleitor e influenciam diretamente sua sensação de melhora ou piora de vida.
Assim, mesmo que a segurança apareça entre as maiores preocupações, não se converte automaticamente em voto — porque o eleitor avalia que a solução não virá do plano federal.
Lavareda lembra também que, historicamente, nenhum candidato presidencial venceu ou perdeu uma eleição tendo a segurança como bandeira principal.
Mesmo nomes que tentaram nacionalizar o tema — tanto à direita quanto à esquerda — não conseguiram transformar essa agenda em vantagem eleitoral concreta.
Ele ressalta ainda que, em 2026, o debate tende a ser dominado por competência econômica, custo de vida, capacidade de investimento e posicionamentos sobre políticas públicas de amplo alcance, como educação, saúde e infraestrutura.
Por fim, no artigo compartilhado com o site Jamildo.com, o autor conclui que a segurança deve, sim, aparecer nos discursos e estratégias de campanha, mas não terá peso suficiente para definir o rumo da eleição presidencial, pois continua sendo, estruturalmente, um tema de maior impacto em eleições estaduais e municipais, onde o eleitor enxerga a verdadeira capacidade de ação do poder público.
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