Com críticas, bolsonaristas articulam mudança de posicionamento; Lula tenta aproximação do empresariado

Cynara Maíra | Publicado em 14/07/2025, às 08h37 - Atualizado às 10h22

Eduardo Bolsonaro com Trump e Jair Bolsonaro - Reprodução Instagram
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A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deflagrou uma crise com impactos políticos e econômicos no Brasil.

O episódio gerou impasses para base bolsonarista e auxiliou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a tentar uma nova aproximação com o empresariado, principal setor afetado pelas medidas.

A resposta inicial da ala bolsonarista foi de confronto, com governadores alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro tentando atribuir a Lula a culpa pelo tarifaço.

A estratégia, no entanto, rapidamente mostrou limites. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que chegou a ecoar essa narrativa, passou a adotar um tom mais pragmático após pressões do setor produtivo paulista.

No sábado (12), Tarcísio defendeu deixar a "questão política de lado" para enfrentar os impactos econômicos da medida, que afeta diretamente as exportações do estado que governa.

A mudança de tom ocorreu após reunião reservada com Bolsonaro, na qual Tarcísio comunicou sua intenção de priorizar a defesa dos interesses econômicos locais.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos, vem celebrando o tarifaço como instrumento de pressão sobre o Judiciário brasileiro, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem reforçado essa linha, tratando a anistia como solução para restaurar a “paz institucional”.

Na prática, o discurso de parte da família Bolsonaro tenta vincular a sobretaxa a uma suposta perseguição judicial sofrida pelo ex-presidente, enquanto o próprio Bolsonaro, até aqui calado, admitiu no domingo (13) os efeitos negativos da medida, mas insistiu que “o perdão entre irmãos” e a anistia seriam o caminho para resolver o impasse.

O movimento, no entanto, foi visto como insuficiente por lideranças políticas e empresariais, que passaram a exigir uma atuação diplomática e econômica mais efetiva.

Lula reage com tentativa de aproximação dos empresários

Do lado do governo federal, o presidente Lula convocou uma reunião emergencial com ministros das áreas econômica e diplomática e determinou a criação de um comitê interministerial para acompanhar os impactos do tarifaço.

Participaram do encontro no Palácio da Alvorada os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Indústria), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e representantes da Casa Civil, Secretaria de Comunicação e Agricultura.

O objetivo, segundo relatos, é identificar os setores mais afetados e organizar uma rodada de reuniões com empresários.

A expectativa é que o próprio Lula conduza parte desses encontros, buscando apoio do setor privado na tentativa de reverter a decisão de Trump ou minimizar seus impactos por meio de medidas compensatórias e pressão diplomática.

Mudanças de posicionamento após pressão do empresariado

O editorial mais recente do Estadão jornal trouxe um posicionamento do empresariado com a condução bolsonarista sobre o caso.

A publicação classificou como “desonesta” a tentativa de Tarcísio, Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil) de imputar a Lula a culpa pela medida imposta por Trump.

O Brasil não merece lideranças que relativizam os próprios interesses nacionais em nome da lealdade a um projeto autoritário”, escreveu o jornal, que tradicionalmente deu espaço à crítica ao petismo e chegou a comparar em 2022 a dificuldade de escolher entre Bolsonaro e Fernando Haddad.

Com a repercussão negativa, aliados de Tarcísio intensificaram gestos de distanciamento do bolsonarismo mais radical.

O governador paulista iniciou articulações diplomáticas com a embaixada dos EUA, procurou ministros do Supremo Tribunal Federal e ampliou o diálogo com setores empresariais para tentar mitigar os efeitos econômicos das sanções

. Internamente, as ações de Tarcísio foram interpretadas como um movimento para consolidar sua imagem como nome viável à sucessão presidencial fora da sombra de Bolsonaro, e sem romper com ele abertamente.

 

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