Victor Missiato | Publicado em 15/09/2025, às 10h47 - Atualizado às 11h12
Por Victor Missiato, em artigo enviado ao site Jamildo.com
Na obra O Antigo Regime e a Revolução, o pensador aristocrata Alexis de Tocqueville realizou uma profunda reflexão acerca das leituras que o Antigo Regime fazia de seu próprio povo. Imerso em uma série de tentativas de reformas, o rei Luís XVI acabou criando uma atmosfera revolucionária que viria a depor e decepar sua própria história. Mesmo acusado de vários crimes que sequer pensara em cometer, suas propostas tornaram-se antropofágicas.
Para além de pensar a Revolução Francesa, Tocqueville propôs uma nova forma de ler a filosofia da História, criando uma série de reflexões que entrelaçam o espaço-tempo do que vem a ser uma revolução nacional, que se transforma em uma visão de mundo.
Tal leitura pode servir de lição para analisarmos os caminhos e descaminhos que a direita brasileira traçou e projeta a partir da condenação de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
É fato notório que Bolsonaro venceu um processo eleitoral utilizando novos espaços de comunicação, derrotando o PT após 16 anos.
Afirmando-se conservador nos costumes e liberal na economia, retirou a direita do armário no século XXI, aprovou uma importante Reforma da Previdência e, em 2022, conseguiu eleger diversos governadores e deputados.
Todavia, uma série de erros comunicacionais durante a pandemia da Covid-19, atrelada a uma composição governamental marcada por dezenas de militares no alto escalão, entre outros problemas, limitou o bolsonarismo a viver do caos para manter acesa a chama de sua militância e, ao mesmo tempo, eclipsar suas limitações estratégicas e programáticas.
O militarismo do governo Bolsonaro criou sua própria erosão. Derrotado em um processo eleitoral, tentou ler a realidade de forma belicosa, abrindo espaço para questionamentos acerca de sua idoneidade democrática.
Tudo não passou de leviandades irresponsáveis que, conforme atestou o ministro Luiz Fux, não materializaram a participação de Bolsonaro em uma tentativa de golpe. Isso, contudo, não o exime da responsabilidade por não ter realizado uma transição totalmente democrática, transparente e republicana.
Ademais, a direita bolsonarista não soube formular uma política educacional consistente. Foram quatro ministros e nenhuma transformação significativa em um país que, ano após ano, derrapa nos exames internacionais.
Seu voluntarismo antiglobalista também não conseguiu ler a conjuntura internacional. O último reflexo desse processo ocorreu nas manifestações do último dia 7, quando militantes abriram uma grande bandeira dos EUA durante a comemoração da Independência do Brasil.
Orgulhosos em dizer que sua bandeira jamais seria vermelha, os bolsonaristas hastearam um estandarte em que metade era vermelha.
Diante do abalo sofrido pelo bolsonarismo, a partir de uma dura pena aplicada a seu líder, cabe à direita política realizar o mesmo exercício filosófico de Tocqueville e, em seguida, construir uma reflexão profunda que se transforme em um projeto de nação.
Democracia, republicanismo, meritocracia, equidade, renovação do pensamento conservador, federalismo, educação, inteligência artificial, produtividade e industrialização são categorias que devem permear o centro de uma direita que não teme mais dizer o seu nome, mas que não pode permanecer acorrentada aos seus mitos.
Victor Missiato é professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie, Tamboré. Dr. em História e analista político
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