Ana Luiza Melo | Publicado em 29/05/2025, às 09h37 - Atualizado às 09h59
A transposição do Rio São Francisco tem sido um dos projetos de infraestrutura mais debatidos no Brasil, impactando diretamente o abastecimento hídrico de diversas regiões do Nordeste. A intervenção também deve trazer mais desenvolvimento para a região, conforme publicado no site Jamildo.com a obra recebeu ontem aporte de R$ 10 bi para projetos de energia renovável, bioeconomia e outros.
No entanto, além dos benefícios esperados, o projeto revelou um tesouro inesperado: fósseis que estão ajudando a reescrever a história evolutiva dos moluscos de água doce.
Durante as obras de transposição, na região da Bacia de Jatobá, no Sertão de Pernambuco, a exposição de rochas denominadas “Formação Salvador” revelou exemplares fósseis datados do início do período Cretáceo, aproximadamente 140 milhões de anos atrás.
Cientistas brasileiros identificaram dois novos gêneros e espécies da família Iridinidae, antes restrita à África. Os fósseis, batizados de Duplexium jatobensise Anhapoa munizi, representam os registros mais antigos desse grupo no planeta e os primeiros encontrados na América do Sul.
A Bacia do Jatobá abrange total ou parcialmente os municípios de Ibimirim, Inajá, Buíque, Tupanatinga, Petrolândia, Tacaratu, Manari, Arcoverde, Itaíba e Sertânia, além de Mata Grande, no estado de Alagoas.
Essa descoberta questiona a antiga teoria de que os moluscos de água doce da família Iridinidae teriam se originado exclusivamente no continente africano. O canal da transposição expôs rochas que, sem as obras, estariam ainda ocultas no solo nordestino.
A revelação permitiu um avanço significativo na paleontologia, fornecendo acesso a fósseis que lançam luz sobre a distribuição dos moluscos no antigo supercontinente Gondwana, antes da separação entre a América do Sul e a África.
Os exemplares analisados foram incorporados à coleção de paleontologia do Museu de Ciências da Terra (MCTer), no Rio de Janeiro, garantindo que futuras pesquisas aprofundem esse achado.
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), do Ministério de Minas e Energia, a presença desses fósseis no Brasil fortalece a hipótese de que os Iridinidae podem ter se originado na América do Sul ou, pelo menos, eram mais amplamente distribuídos do que se pensava.
“Trata-se de um achado de enorme relevância paleobiogeográfica, que mostra que esses moluscos existiam na América do Sul muito antes do que se imaginava. Isso pode indicar que o grupo tenha se originado aqui, ou pelo menos que era muito mais amplamente distribuído no Gondwana”, explica Rafael Costa da Silva, pesquisador do SGB e coautor do artigo.
O estudo está disponível na integra (acesse neste link) e é assinado por Débora Eliza Baumann, Luiz Ricardo L. Simone, Rafael Costa da Silva (pesquisador do Museu de Ciências da Terra/SGB) e Renato Pirani Ghilardi, em parceria com instituições como a Unesp (Bauru) e o Museu de Zoologia da USP.
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