Áureo Cisneiros | Publicado em 12/08/2025, às 07h53 - Atualizado às 08h34
Por Áureo Cisneiros, em artigo enviado ao site Jamildo.com
O capitalismo, ao longo da história, demonstrou não apenas sua capacidade de adaptação, mas também sua habilidade de manipular a sociedade para preservar privilégios. Uma das estratégias mais eficientes para manter o controle é a divisão.
Não qualquer divisão, mas aquela que fragmenta a consciência de classe, transformando o debate político em um ringue onde trabalhadores se enfrentam, enquanto o verdadeiro poder econômico permanece intocado.
*O mundo vem sendo induzido a enxergar a realidade como uma disputa entre direita e esquerda, entre “nós” e “eles”. Essa polarização, que muitas vezes se apresenta como espontânea, é em boa parte alimentada por interesses que lucram com o conflito.
A grande vitória dessa narrativa é fazer com que trabalhadores — independentemente de sua posição no espectro ideológico — esqueçam que possuem mais interesses em comum entre si do que com qualquer elite financeira ou política.
Enquanto o povo se perde em batalhas eleitorais e debates inflamados nas redes sociais, a engrenagem dos super-ricos continua funcionando a todo vapor. Direitos trabalhistas são flexibilizados, serviços públicos essenciais são sucateados, e o orçamento estatal é moldado para favorecer grandes empresas e o mercado financeiro.
O resultado é sempre o mesmo: mais concentração de riqueza no topo e mais precariedade na base.
No Brasil, o Estado tem dono — e não é o povo.
Os recursos públicos, que deveriam fortalecer a segurança, valorizar o policial, investir na educação de qualidade e garantir uma saúde pública eficiente, são drenados para o sistema financeiro e para os super-ricos.
Basta olhar para as isenções fiscais bilionárias, os juros abusivos da dívida e a manutenção de privilégios que servem a poucos. A cortina de fumaça da polarização entre esquerda e direita cumpre um papel essencial: impedir que a população perceba que está sendo saqueada.
Para perceber isso, basta analisar a política econômica do presidente atual, Lula, e do ex-presidente Bolsonaro: houve alguma diferença estrutural? Não.
A mesma linha econômica se mantém, com privilégios intactos para o sistema financeiro e para os grandes conglomerados, enquanto o povo é distraído por debates ideológicos superficiais.
A cortina de fumaça atua para ludibriar, e o risco é que a maioria continue acreditando nessa farsa. É preciso despertar enquanto ainda há tempo.
Essa cortina de fumaça também funciona nas eleições legislativas. Temos hoje um Congresso conservador formado, em grande parte, pelas mesmas famílias políticas de sempre. A renovação foi mínima e a prática política segue a mesma: defender os privilégios dos super-ricos, mantendo o Estado nas mãos dos mesmos grupos que sempre o controlaram.
E a lógica se repete na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), onde a composição é majoritariamente formada pelos mesmos políticos de sempre ou, quando há renovação, ela vem de dentro da própria família: filho, sobrinho, genro, neto, esposa… Um ciclo fechado que mantém o poder concentrado e impede mudanças estruturais.
O povo, a cada eleição, acredita estar promovendo mudança, mas não percebe que caiu na armadilha. A maquiagem da “renovação” é apenas mais um recurso para manter o sistema funcionando como sempre, enquanto a população continua na pindaíba.
O mais grave é que o povo, em grande parte, não percebe esse roubo institucionalizado. Segue sendo usado para sustentar o sistema, defendendo líderes e bandeiras que, no fim das contas, não tocam na estrutura que perpetua a desigualdade.
É como se a sociedade fosse induzida a discutir a cor da parede enquanto a casa inteira está sendo saqueada.
Essa não é uma defesa da neutralidade política, mas um chamado à lucidez. É fundamental compreender que a luta central não é apenas contra um partido ou uma corrente ideológica, mas contra um sistema que naturaliza a desigualdade.
A perspicácia está em identificar que, para mudar essa realidade, é preciso romper a lógica da fragmentação e resgatar a unidade da classe trabalhadora.
Enquanto continuarmos aceitando a narrativa de que o “inimigo” é apenas quem pensa diferente de nós politicamente, estaremos caindo exatamente na armadilha que sustenta o modelo econômico que nos explora.
A transformação real só será possível quando a maioria compreender que o verdadeiro confronto é contra a concentração de riqueza e poder que impede o avanço de todos.
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