Desde 2023 parlamentares alertavam sobre riscos no Córrego da Bica; documentos vazados hoje mostram pedidos para contenção da encosta antes do deslizamento
por Yan Lucca
Publicado em 06/02/2025, às 16h50
Documentos obtidos com exclusividade pelo Blog de Jamildo revelam que desde 2023 parlamentares já comentavam o risco que a barreira no Córrego da Bica, no bairro do Passarinho, na Zona Norte do Recife representava.
O deslizamento deixou duas vítimas fatais na madrugada desta quinta-feira (6). Maria da Conceição Braz de Melo, de 51 anos, e Nicole Melo Braz de Souza, de 23 anos.
Mais de 20 requerimentos foram enviados à Mesa Diretora da Casa de José Mariano por vereadores de diferentes partidos, incluindo tanto parlamentares da oposição quanto da base governista, solicitando a contenção da encosta no Córrego da Bica — justamente o local onde ocorreu o deslizamento.
Os pedidos, protocolados ao longo dos últimos anos, alertavam para o risco iminente de acidentes e foram assinados por nomes como Pastor Júnior Tércio (PP), Felipe Francismar (PSB), Felipe Alecrim (PSC, na época), Ronaldo Lopes (PSC, na época) e Almir Fernando (PSB). Alguns requerimentos foram apresentados até junho de 2024.
Entre as justificativas, destaca-se um dos pedidos de Almir Fernando, que enfatizava os riscos enfrentados pelos moradores:
“A presente Indicação tem como finalidade atender às diversas reivindicações da comunidade, uma vez que os moradores vêm sendo prejudicados com deslizamentos devido às várias rachaduras que estão aparecendo na barreira. Solicitamos, portanto, que seja construída a encosta, pois o problema mencionado está deixando os referidos residentes preocupados, considerando o risco de vida que estão correndo.”
Dos cinco vereadores que protocolaram pedidos, os que mais acionaram o Poder Executivo foram os dois que não conseguiram se reeleger em 2024: Ronaldo Lopes, com oito requerimentos para a construção de barreira na Rua Córrego da Bica, e Almir Fernando, com sete requerimentos.
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O então vereador Ronaldo Lopes, antes de deixar a bancada de oposição, também registrou um pedido.
“... a atual condição da área tem apresentado problemas de instabilidade no terreno e requer máxima atenção, sobretudo no período de chuvas, que tem colocado em risco as famílias da localidade. Essa situação representa uma grande ameaça para a segurança dos moradores e transeuntes".
"Dessa forma, a construção de um muro de arrimo se faz urgente, pois evitará a erosão no local, garantindo uma maior estabilidade ao terreno, protegendo a população e assegurando a integridade das Vias. Tal medida preventiva se justifica devido ao risco de deslizamentos e soterramentos das residências da localidade”. Ele não conseguiu se eleger e hoje é assessor da Casa Civil do Governo de Pernambuco.
O líder do governo na Câmara, vereador Samuel Salazar (MDB), lamentou a tragédia e destacou as ações da Prefeitura para reduzir riscos em áreas vulneráveis da cidade.
"O que aconteceu no Córrego da Bica é uma tragédia que nos comove profundamente. A perda dessas duas vidas deixa toda a cidade em luto e minha solidariedade está com as famílias das vítimas neste momento tão difícil. Mais do que nunca, precisamos de união e respeito. É importante lembrar que, diante de uma situação como essa, não é hora de fazer política. O foco agora deve ser em apoiar as famílias afetadas e garantir a segurança da população", afirmou Salazar.
O vereador ressaltou que, nos últimos quatro anos, a Prefeitura do Recife investiu mais de R$ 15 milhões em nove obras de contenção de encostas no bairro de Passarinho, sendo cinco no próprio Córrego da Bica, beneficiando mais de 1.200 pessoas. Além disso, o Programa Parceria concluiu 207 obras na região, com um investimento de R$ 912 mil, e outras 17 estão em andamento.
"O município também garantiu recursos do Novo PAC para iniciar mais três obras importantes no bairro. Só que é importante deixar claro que, num intervalo de 24 horas, choveu no Recife mais de 200 mm, sendo mais que o dobro do que é previsto para chover em todo o mês de fevereiro. Esse volume extremo satura qualquer solo e, com isso, aumenta o risco de deslizamentos, especialmente nas áreas de morro", acrescentou o parlamentar.
Salazar também explicou que os requerimentos apresentados pelos vereadores são instrumentos de solicitação ao Executivo, mas a execução das obras depende de fatores como viabilidade técnica e orçamento disponível.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura do Recife e o espaço segue aberto para eventuais esclarecimentos.