Caiado acusa Lula de “surfista da crise” e defende Bolsonaro, Tarcísio adota tom mais pragmático e aciona a diplomacia para proteger exportações de SP
por Ana Luiza Melo
Publicado em 23/07/2025, às 11h00 - Atualizado às 12h16
Dois governadores pré-candidatos à Presidência em 2026, Ronaldo Caiado (GO) e Tarcísio de Freitas (SP), criticaram o governo Lula após o anúncio de tarifas de até 50% dos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Embora ambos apontem falhas na política externa, o tom e a estratégia adotados evidenciam caminhos distintos dentro da direita brasileira.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), adotou um tom duro contra Lula, acusando-o de “surfar na crise” e usar o conflito com os EUA para ganhos eleitorais.
Nesta terça-feira (22), em entrevista coletiva após reunião com o empresariado goiano para discutir medidas que amenizem o impacto dos tributos norte-americanos nas exportações, Caiado voltou a criticar a ausência de respostas concretas do governo federal. Enquanto Lula não sinaliza ações efetivas, o governador anunciou três fundos para apoiar as empresas atingidas.
“Está surfando do ponto de vista político em torno de taxações, com claro interesse de buscar resultado eleitoral em detrimento do desenvolvimento do país. Lula esconde a crise e a incompetência dele com uma narrativa de soberania. A intenção do brasileiro nunca foi romper relações comerciais com nenhum país”, afirmou.
Para Caiado, a medida norte-americana não tem motivo justificado e falta diálogo entre os países. “Nunca vi tamanha maluquice como essa, totalmente fora do contexto de diálogo. Temos facilidade de convivência, não dificuldades. Estamos sendo atingidos sem motivo específico. Sempre fomos país aliado.”
O governador também comentou a determinação do uso da tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, aplicada desde a última sexta-feira (18).
“O uso da tornozeleira é para quem já foi julgado e condenado, está em progressão de regime, respondendo a crime. Bolsonaro está respondendo ao processo, comparecendo às audiências, o que é um direito no estado democrático em que vivemos. Não se pode ter um julgamento que viole os princípios da legalidade, seja à esquerda ou à direita. Lula falava muito sobre prisão, mas não se pode ter dois pesos e duas medidas”, concluiu.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), inicialmente compartilhou e elogiou, no dia 7 de julho, uma carta de Trump que defendia Bolsonaro e acusava o STF de “caça às bruxas”. Dois dias depois, criticou Lula por “priorizar ideologia” e culpou o governo federal pela deterioração das relações com os EUA.
No entanto, nesta terça-feira (22), recuou e afirmou que “a questão política é sempre um entrave”, defendendo a necessidade de “deixar a política de lado” para focar nos interesses nacionais.
Tarcísio reconheceu que a tarifa de 50% é “deletéria” e “complicada” para a economia paulista, principalmente nos setores de alto valor agregado, como aeroespacial e agroindustrial.
“A questão política é sempre um entrave. Mas chegou a hora de colocar o interesse nacional acima disso e entender a natureza do movimento geopolítico em curso para que possamos buscar o interesse do país”, afirmou.
O governador citou exemplos de países que conseguiram mitigar os efeitos das tarifas americanas, mencionando Canadá e México — que possuem governos de esquerda em relação a Trump — e afirmou que a redução das taxas “já está acontecendo com a Argentina e pode acontecer com o Brasil também”.
A Argentina é governada por Alberto Fernández, de centro-esquerda, enquanto Javier Milei, deputado federal e aliado de Trump, representa a oposição de direita no país. De acordo com especialistas, essa referência reforça a tese de que o alinhamento ideológico não é o único fator decisivo nas negociações comerciais.
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