Oposição teceu diversas críticas à rejeição do projeto que visava garantir a permissão de intervalos religiosos em escolas
por Cynara Maíra
Publicado em 28/05/2025, às 09h03 - Atualizado às 10h19
A Câmara Municipal do Recife rejeitou, por 13 votos a 12, o Projeto de Lei Ordinária (PLO) nº 61/2025, que previa a autorização para a realização de intervalos religiosos em escolas públicas e privadas da capital.
A proposta, de autoria do vereador Thiago Medina (PL), reacendeu o debate sobre manifestações religiosas no ambiente escolar e gerou reações da oposição após o resultado apertado da votação.
O texto visava garantir aos estudantes o direito de se reunirem, de forma voluntária, durante os intervalos escolares, para orações, leitura de textos sagrados e outras práticas ligadas à fé.
O projeto também constava a possibilidade de que as instituições pudessem declarar sua confissão religiosa, desde que garantida a liberdade de participação dos alunos.
A proposta chegou a plenário sem passar pelas comissões temáticas da Casa, sendo incluída na ordem do dia com base no artigo 32 da Lei Orgânica do Recife, que permite a tramitação direta para votação após dois meses de protocolo.
Durante a discussão em plenário, Medina defendeu a medida argumentando que o projeto assegura o direito à manifestação religiosa, individual ou coletiva, nas dependências escolares.
Segundo o parlamentar, o “intervalo religioso” representa um espaço legítimo para o exercício da fé dos estudantes, sem obrigatoriedade.
“O que estamos garantindo é a liberdade de expressão religiosa no ambiente escolar, algo que já é previsto na Constituição”, declarou Medina, lembrando que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) chegou a instaurar um procedimento administrativo, em 2024, para apurar a realização desses encontros em escolas públicas da rede estadual.
Os vereadores da Oposição focaram em apresentar manifestações de apoio ao projeto.
Após a rejeição da pauta, o líder do bloco de oposição, Felipe Alecrim (Novo), chamou de “retrocesso”.
“Não estamos criando um privilégio, estamos protegendo um direito. O que está em jogo aqui é a liberdade de expressão da fé em um ambiente que precisa acolher a diversidade, inclusive religiosa”, afirmou na tribuna.
Outros parlamentares, como Gilson Machado Filho (PL), Eduardo Moura (PL) e Alef Collins (PP), também defenderam a aprovação. Para eles, o projeto não impunha práticas religiosas, mas apenas garantia espaço para quem optasse por exercer sua fé durante o horário de intervalo.
Contrários à proposta, vereadores como Carlos Muniz (PSB) e Luiz Eustáquio (PSB) expressaram preocupação com a politização do tema e os possíveis conflitos no ambiente escolar.
“Essas matérias costumam desandar para uma discussão entre o bem e o mal, o que é muito negativo”, afirmou Muniz.
Já Eustáquio, embora tenha reconhecido o mérito da matéria, criticou o uso político da pauta: “Essa Constituição não foi feita só pela esquerda, nem só pela direita. Foi feita por todos, e ela já assegura a liberdade religiosa”.
A derrota do projeto foi lamentada pelos apoiadores, que apontaram uma desconexão entre a decisão da Casa e o posicionamento recente do MPPE.
No dia 12 de março, o órgão afirmou que não criaria obstáculos à realização de reuniões religiosas nas escolas, desde que não houvesse imposição e que as direções escolares regulamentassem os encontros.