A exigência de modelos mais novos é uma estratégia da Uber para oferecer mais conforto aos passageiros, mas terá impactos para motoristas
por Jamildo Melo
Publicado em 26/11/2024, às 08h45
Recentemente, a empresa Uber anunciou que, a partir de 2025, irá restringir os carros permitidos nas categorias Black e Comfort, excluindo modelos populares como Hyundai HB20, Ford Focus e Renault Sandero.
Essa mudança pode afetar diretamente os motoristas de aplicativo, especialmente porque, segundo dados da ferramenta GigU (anteriormente StopClub), cerca de 72,7% dos motoristas nas 15 principais capitais brasileiras possuem carro próprio.
A exigência de modelos mais novos é uma estratégia da Uber para oferecer mais conforto aos passageiros. No entanto, isso impacta os motoristas de duas maneiras principais. Primeiro, conseguir financiamento para comprar um carro novo sendo motorista de aplicativo não é fácil.
Muitos motoristas não têm contracheque, não declaram imposto de renda ou operam com MEI, dificultando a comprovação de renda, mesmo com um faturamento relativamente alto. Segundo, novos automóveis possuem maior valor agregado, o que resulta em custos de manutenção mais elevados.
A medida pode resultar em maior gasto para os motoristas, seja para suportar um financiamento ou para cobrir os custos de manutenção.
Como alternativa, muitos motoristas podem ser forçados a migrar para categorias menos lucrativas, como a Uber X. Essa mudança será sentida principalmente por aqueles que dependem das categorias mais premium para garantir uma renda mais alta. A mudança pode causar queda nos ganhos dos motoristas que não podem trocar ou adaptar seus veículos aos novos requisitos.
Luiz Gustavo Neves, CEO e co-fundador da fintech social GigU, que apoia motoristas e entregadores de aplicativo, explica que as novas exigências aumentam os desafios financeiros desses profissionais no Brasil. “Eles precisarão se adaptar a novas regras ou enfrentar a diminuição da rentabilidade, o que afeta diretamente a vida daqueles que dependem desse trabalho para garantir o sustento de suas famílias”, afirmou Neves.
Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra uma queda no rendimento desses profissionais ao longo dos anos.
Em 2015, o valor médio era de R$ 3.100, enquanto em 2022, caiu para R$ 2.400. Esse declínio de aproximadamente 23% no rendimento indica as dificuldades enfrentadas pelos motoristas de aplicativo. "Ao transferir a responsabilidade de adequação dos carros para os motoristas, a Uber amplia a pressão sobre um setor já impactado por altos custos operacionais e instabilidade financeira", cita Luiz Gustavo Neves.
“Entendo a Uber querer atualizar a frota e dar mais conforto aos passageiros, mas fazer isso sem qualquer ajuste no valor pago aos motoristas, especialmente neste momento econômico, é péssimo. No final, os passageiros ficarão bem atendidos, a Uber aumentará sua rentabilidade e quem paga essa conta são os motoristas. Muitos não conhecem as elevadas despesas operacionais que esses profissionais precisam arcar, como combustível, manutenção do veículo, seguros e taxas de plataformas. Após deduzir esses custos, o dinheiro que realmente sobra é consideravelmente menor”, conclui Neves.
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