Grupo João Santos anuncia venda de ativos para quitar dívidas e acelerar retomada

Objetivo do Grupo João Santos é alcançar arrecadação de aproximadamente R$ 920 milhões com venda de ativos e pagar dívidas em impostos e trabalhistas

Jamildo Melo

por Jamildo Melo

Publicado em 11/02/2025, às 11h57

Santa Tereza, em Goiana, já foi uma das maiores usinas do Estado - Internet
Santa Tereza, em Goiana, já foi uma das maiores usinas do Estado - Internet

Na última sexta-feira, 7 de fevereiro, o Grupo João Santos, em recuperação judicial, obteve a homologação do plano de recuperação judicial analisado pela 14ª Vara Cível de Recife.

Ultrapassada esta fase, o grupo diz que agora pretende avançar na negociação de ativos imobiliários considerados não estratégicos para a sua principal atividade, a indústria do cimento.

No total, o objetivo é obter uma arrecadação inicial de aproximadamente R$ 920 milhões.

Segundo o grupo, a maior parte dos imóveis vendidos pertence ao patrimônio da Companhia Agroindustrial de Goiana, razão social da Usina Santa Tereza, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, em uma região tida como estratégica para o setor sucroalcooleiro do estado.

A região conta com complexo industrial onde estão as fábricas da Fiat e de indústrias cervejeiras, como Heineken e Itaipava.

Além disto, existe a expectativa de que a região seja beneficiada pela construção do Arco Metropolitano. Se sair do papel, o novo anel rodoviário promete desafogar o trecho da BR-101 que atravessa o Recife, facilitando uma conexão rápida com o porto de Suape.

Pagamento de dívidas trabalhistas e impostos

O montante obtido com a alienação dos imóveis terá como destino o pagamento de 100% dos créditos trabalhistas devidos a 20.592 funcionários e ex-funcionários, ou seja, 89,8% dos credores trabalhistas das empresas do Grupo.

Outras 944 pessoas – 4% do total de credores trabalhistas - receberão 50% de seu crédito.

O grupo promete em dois anos honrar suas dívidas trabalhistas e com fornecedores.

Segundo o grupo, também serão pagos os montantes devidos no empréstimo celebrado com a gestora ARC Capital e na renegociação de dívidas celebrado com a Fazenda Nacional.

“A nova gestão está focada no soerguimento e na manutenção do legado e solidez do Grupo, resgatando o prestígio que marcou sua trajetória junto ao mercado e à sociedade brasileira e a importância econômica de seus negócios para o Nordeste e o país como um todo”, afirma o grupo em comunicado.

Dívidas tributárias estaduais

O grupo João Santos revela que também está buscando acelerar a renegociação das dívidas tributárias com os estados.

“Além da obtenção dos benefícios, a regularização da situação fiscal nos estados é fundamental para o cumprimento das condições de homologação do plano de recuperação judicial”, afirma Guilherme Rocha, copresidente do Grupo.

“Essas negociações trarão ao Grupo João Santos novas condições para a reabertura das novas fábricas e, finalmente, a suspensão de medidas judiciais de cobrança das dívidas, agora regularizadas”, informou Nivaldo Brayner, também copresidente.

Em ao menos seis estados (Bahia, Espírito Santos, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Norte) os débitos fiscais estaduais foram renegociados integral ou parcialmente, reduzindo o passivo em R$ 414,5 milhões.

Em outros dois estados, o Grupo voltou a ser contemplado com benefícios fiscais, após a renegociação de suas dívidas tributárias. Foi o caso no Espírito Santos e Rio Grande do Norte.

Reação dos trabalhadores

Uma parte dos trabalhadores diz que o grupo não vai pagar as dívidas trabalhistas em 2 anos. A recuperação judicial tem deságio de 80%. Quem trabalhou 40, 50 anos e tiver R$ 1 milhão para receber, vai ficar com R$ 200 mil, divididos em 16 anos. Como são 96 parcelas, e alguns ex-funcionários já morreram, outros não vão conseguir receber em vida.

A busca pelo soerguimento

No auge, o grupo operava 11 fábricas, quando dominava 14% do mercado de cimento do país.

Ao longo de 2023 e 2024, a nova gestão reabriu duas fábricas que se somaram às duas unidades que estavam em funcionamento, conforme registrou o site Jamildo.com.

Hoje, a produção de cimento está concentrada nas fábricas de Cachoeiro do Itapemirim (ES), Codó (MA), Capanema (PA) e Mossoró (RN), o que gerou em 2024 um faturamento superior a R$ 1 bilhão.