Extrema pobreza caiu a metade no Brasil, depois da pandemia. Nordeste deu a maior contribuição

Pobreza extrema é enfrentada com programas sociais, depois da pandemia, e desigualdade social cai, especialmente no Nordeste

Jamildo Melo

por Jamildo Melo

Publicado em 24/06/2024, às 08h02

Programa Bolsa Família ajuda a reduzir desiguldade no Nordeste - Roberta Aline/ MDS
Programa Bolsa Família ajuda a reduzir desiguldade no Nordeste - Roberta Aline/ MDS

Um estudo do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV IBRE, divulgado nesta metade do mês de junho, mostra que a extrema pobreza caiu a metade no Brasil, após o período de pandemia do coronavírus. A região Nordeste representou 50% desta redução.

O estudo é assinado por Flávio Ataliba, Doutor em Economia FGV e Coordenador do Centro do
Nordeste, ao lado de mais três pesquisadores do mesmo centro, dois deles também doutores em economia  (Vitor Hugo Miro e João Mário de França) e um último Doutor em Ciência Política (Arnaldo Santos).

O trabalho aponta que o impacto de programas sociais como Bolsa Família (depois chamado de Auxílio Brasil) permitiram que mais de 5,4 milhões de pessoas em famílias residentes no Nordeste ultrapassarem a linha de pobreza, e quase 5 milhões a linha de extrema pobreza. Na metade de maior, um artigo no Ibre já evidenciava o aumento do peso das transferências de renda em todo país com impacto maior no Nordeste.

Examinando a série completa os autores verificam que todo as regiões brasileiras reduzem a pobreza e a extrema pobreza nesse período, com destaque para as regiões Norte e Nordeste.

Ademais, essas reduções são mais intensas a partir de 2021, motivada muito provavelmente pela ampliação dos valores pagos nos programas de transferências Auxílio Brasil (2022) e o novo Bolsa família (2023).

No estudo de agora, eles começam o estudo falando da dinâmica d1a pobreza nos períodos pré e pós pandemia.

De acordo com os autores do estudo, entre 2012 e 2023, é possível verificar dinâmicas diferenciadas, determinadas por fatores conjunturais e pelos efeitos de choques e de políticas.

Segundo eles, entre 2012 e 2019, em um período caracterizado por uma importante recessão e anos de baixo crescimento, apenas as regiões Nordeste e Sul reduziram o número de pessoas em situação de pobreza. No caso da extrema pobreza, nenhuma região apresentou redução.

"A dinâmica após 2020 é bem diferente, explicada pelo cenário de pandemia e de transformações na política de transferência de renda. Os efeitos mais severos da pandemia de Covid-19 sobre os indicadores de pobreza só foram sentidos em 2021, ano em que foi possível observar um abrupto aumento na incidência de pobreza".

"Após 2021, as mudanças nas políticas de transferência de renda permitiram o esboço de uma tendência acentuada de redução de pobreza e extrema pobreza. Neste segundo caso, destaca-se a região Nordeste, que concentra a maior parcela da população pobre e dependente das transferências".

"O desenho dos programas de transferência de renda a partir de 2022 induziram uma forte redução de pobreza e extrema pobreza no Brasil e em todas as regiões. O impacto destes programas foi significativo ao permitir que mais de 5,4 milhões de pessoas em famílias residentes no Nordeste ultrapassarem a linha de pobreza, e quase 5 milhões a linha de extrema pobreza", escrevem.

Índice de pobreza

Conforme os números do estudo, em 2021, a estimativa é que quase 33 milhões de pessoas estavam em situação de pobreza no Nordeste. O índice de pobreza atingiu um patamar de 57,4% da população residente na região.

Eles comparam que, em 2023, o índice de pobreza para o Nordeste foi estimado em 47,4%, correspondendo a mais de 27,5 milhões de pessoas.

"Após atingir estes índices em 2021, a redução no número de pessoas em situação de pobreza até 2023 foi da ordem de 4,86 milhões. O número de pessoas em condição de pobreza monetária em 2023 foi estimado em 27,5 milhões, o que representa uma redução de 16,5% neste período (de 2021 a 2023)".

Em 2023 o índice de pobreza extrema para o Nordeste foi estimado em 9%, equivalente a pouco mais
de 5,6 milhões de pessoas. Em 2012 essa medida foi de 14,2%, ou 7,7 milhões de pessoas e dessa forma
constata-se que 2,1 milhões de pessoas deixaram essa condição nesse período.

No pior ano da série, 2021, o índice de extrema pobreza no Nordeste alcançou o patamar de 17,6%, onde
mais de 10 milhões de pessoas se enquadravam nesta condição de insuficiência de renda mais severa.

Estes dados permitem inferir que, entre 2021 e 2023, 4,86 milhões de pessoas deixaram a condição de
extrema pobreza na região Nordeste. Isso representa metade da redução de pessoas em situação de
extrema pobreza no Brasil no mesmo período (que foi de 9,67 milhões entre 2021 e 2023)

Numeros por estados do Nordeste

Entre 2012 e 2019, Bahia e Ceará apresentaram a maior redução de pobreza no Nordeste, com redução de 4,8 pontos percentuais (p.p.). Entre 2021 e 2023, o estado que mais se destaca é Alagoas (-14,3 p.p.), seguido pelo Maranhão (-13,5 p.p.).

Os economistas destacam que, no período completo, o estado com melhor desempenho foi o Maranhão, com uma redução de 8 p.p. Entre 2012 e 2019, o Ceará foi o único estado nordestino a apresentar redução estatisticamente relevante no índice de extrema pobreza, embora seja uma redução de apenas 1 ponto percentual neste indicador.

"Entre 2021 e 2023 a dinâmica já é bastante diferente. Nestes últimos anos, Maranhão e Pernambuco foram os estados que experimentaram a maior redução relativa no indicador de pobreza".  O programa Bolsa Família chega a 1,57 milhão de famílias pernambucanas no mês de junho, conforme já destacou com exclusividade o Blog de Jamildo.