Logo depois de assinatura sobre Metrô do Recife, linha tem curto circuito e passa noite sem funcionar

Incidente na Linha Centro ocorreu um dia após acordo entre Lula e Raquel Lyra para concessão do sistema do Metrô do Recife. Metroviários repudiam projeto

Cynara Maíra

por Cynara Maíra

Publicado em 18/12/2025, às 09h31 - Atualizado às 09h53

Metrô do Recife
Metrô do Recife passa por diversos problemas de infraestrutura - DIVULGAÇÃO

Linha Centro parou na quarta (17) após curto-circuito, um dia depois do anúncio de concessão.

Passageiros andaram nos trilhos e o sistema só normalizou na manhã desta quinta (18).

Sindmetro-PE repudiou o acordo entre Lula e Raquel Lyra, chamando-o de "afronta" e "equívoco".

O governo federal promete R$ 4 bilhões para estruturar a PPP, mas sindicato critica "improvisação".

Falhas como incêndios e paralisações tornaram-se rotina no sistema, que transporta 160 mil pessoas/dia.

Um dia após o presidente Lula (PT) e a governadora Raquel Lyra (PSD) assinarem um acordo bilionário para a concessão do Metrô do Recife, o sistema voltou a apresentar falhas graves. Um curto-circuito na rede aérea interrompeu a operação de todas as 19 estações da Linha Centro na noite de quarta-feira (17).

O problema começou às 17h20, entre as estações Werneck e Barro, na Zona Oeste. O motivo seria um problema em um pantógrafo, equipamento que conecta o trem à rede elétrica, que desorganizou a fiação e forçou os usuários a descerem dos vagões e caminharem pelos trilhos.

Segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o ramal só foi reaberto às 21h20, operando parcialmente em via singela (apenas uma plataforma para os dois sentidos). A normalização total ocorreu apenas às 5h35 desta quinta-feira (18).

O incidente desta semana soma-se a uma lista de problemas. Em outubro, um incêndio em um trem paralisou o ramal Camaragibe por dias.

Em novembro, a categoria realizou greve cobrando melhorias. Desde agosto de 2024, o metrô não opera aos domingos para permitir janelas de manutenção que, segundo os usuários, não têm evitado as quebras constantes durante a semana.

Acordo sob críticas e repúdio

O colapso técnico coincide com o momento de maior tensão política sobre o futuro do modal. Na terça-feira (16), em Brasília, os governos federal e estadual firmaram um pacto que prevê R$ 4 bilhões em investimentos da União para recuperar a infraestrutura antes de entregar a operação à iniciativa privada via Parceria Público-Privada (PPP).

O Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE) reagiu com uma nota de repúdio, classificando o acordo como uma "afronta ao povo pernambucano" e acusando Lula de agir sem diálogo com a categoria.

"Tratar um sistema essencial como o metrô do Recife dessa forma é uma irresponsabilidade... O risco iminente de um acidente grave, inclusive com vítimas fatais, foi praticamente anunciado", alertou o sindicato.

Investimentos emergenciais e longo prazo

O acordo prevê uma etapa de transição, onde o Estado assume a gestão provisória com suporte da CBTU. Nesse período, a União promete liberar R$ 150 milhões para reparos imediatos em estações e rede elétrica, além da compra de 11 trens (novos ou usados).

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, defendeu que o aporte de R$ 4 bilhões garantirá a modernização estrutural ao longo dos cinco primeiros anos da futura concessão. O leilão deve ocorrer no final de 2026, sob coordenação do BNDES.

Para os metroviários, a solução passa pelo investimento público direto e tarifa zero, rejeitando a privatização.