João Campos dobra área do parque público no Cais José Estelita

Acordo da Prefeitura do Recife, sob gestão João Campos, com Advocacia Geral da União (AGU), garante ampliação da área de uso público no Cais José Estelita

Jamildo Melo

por Jamildo Melo

Publicado em 05/06/2024, às 12h08

Vista aérea do Cais José Estelita - Blog Imagens
Vista aérea do Cais José Estelita - Blog Imagens

Com um acordo com a União, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), conseguiu duplicar a área pública do Cais Estelita, dentro do projeto imobiliário Novo Recife.

O termo de conciliação foi assinado pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, e o prefeito do Recife, João Campos. O acerto encerra uma divergência sobre os limites da área leiloada pela União ao consórcio Novo Recife.

Prefeito João Campos no momento da assinatura do acordo com  AGU para a ampliação do parque público do Cais José Estelita

Era esta a peça que faltava para liberar o novo sistema viário no local.  O acordo também permitirá a remoção do muro da Avenida Sul para ligação entre os bairros do Cabanga e São José.

"Com esse acordo homologado, que foi liderado aqui por muitas mãos, mas sobretudo pela condição do ministro Messias, inicialmente eram em torno de 50 mil metros quadrados e agora a gente vai chegar perto de 100 mil metros quadrados, incluindo a proteção da memória ferroviária que faz parte da história da cidade e que vai estar disponível, aberta para todas as pessoas da nossa cidade", afirmou o prefeito João Campos.

O acordo assinado pela AGU e a Prefeitura do Recife abrIU caminho para transformar a área do histórico Pátio Ferroviário das Cinco Pontas, no Cais José Estelita, região central do Recife, em um parque público com a recuperação e proteção dos elementos da memória ferroviária tombados lá existentes.

O acordo estabelece que, em troca da regularização da área, o consórcio se compromete a investir R$ 21 milhões na recuperação de equipamentos federais históricos – como areeiro, oficina de locomotivas, caixa d’água e tanque de combustível – e a indenizar a União em R$ 900 mil pelos trechos sobrepostos, que passarão a ser área privada de uso público.

Além do consórcio Novo Recife, participaram do acordo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

"Neste acordo, a AGU confirma sua vocação pacificadora, conciliadora", afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias, durante a assinatura.

"Nós fomos desafiados ano passado para encontrar uma solução jurídica, sustentável, que entregasse valor, principalmente à população do Recife, que agora vai poder desfrutar de uma área pública muito maior, com equipamentos de lazer, equipamentos culturais e preservação do meio ambiente".

O procurador-regional Federal da 5ª Região, Luiz Henrique Diniz Araújo, destacou a atual postura da AGU de buscar soluções negociadas para as demandas jurídicas.

"Nós somos acima de tudo uma instituição de construção de soluções jurídicas dialogadas", disse. "Foi um diálogo com diversos atores para construir uma solução jurídica que contemple a todos e resolva um problema jurídico de mais de 15 anos", resumiu.

Divisão do terreno

O pátio ferroviário de 55,6 mil metros quadrados corresponde a um terço do terreno que era de propriedade da antiga Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), empresa pública federal extinta em 2007. É a área operacional do terreno, que não foi leiloada quando a União decidiu se desfazer dos imóveis da RFFSA, e pertence hoje ao Dnit.

Pela sua importância para a memória do setor, com construções que datam de 1858, o pátio foi o incluído em 2015 na Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário pelo Iphan.

Os outros dois terços do antigo terreno da RFFSA, chamados de área não operacional, de 101,7 mil metros quadrados, foram leiloados pela União em 2008 e, no local, está sendo erguido o projeto imobiliário Novo Recife por um consórcio de empresas.

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A última briga do projeto, de bastidores

A briga judicial envolvendo a área operacional histórica começou em 2022, quando o consórcio Novo Recife entrou com uma ação contra a União por divergências na matrícula imobiliária e sobreposição de planta em trechos limítrofes com o Pátio Ferroviário.

O procurador federal Henrique Varejão afirmou que a origem da divergência está no fracionamento do terreno da RFFSA em área operacional e não operacional.

"Quando a RFFSA foi extinta e seus bens passados à União, salvo as áreas operacionais, que foram para o Dnit, a segregação do terreno no Cais José Estelita foi baseada em uma planta física da RFFSA, assim como o leilão da área não operacional realizado em 2008. Para a regularização da matrícula do imóvel, o consórcio requereu à Secretaria do Patrimônio da União a autenticação da planta georreferenciada, exigida por lei, da área, o que foi realizado ainda em 2009. No ano seguinte, foi emitido o termo de incorporação e registro da área em nome da União e a certidão de inteiro teor para fins de transferência ao particular", conta o procurador federal.

"Entretanto, posteriormente, a SPU identificou que havia áreas de sobreposição entre a planta original e a georreferenciada, inclusive em trechos com elementos ferroviários históricos e protegidos".

"Ou seja, a planta homologada pela SPU para a matrícula do loteamento divergia daquela utilizada como referência para a alienação da área não operacional. Identificada divergência, não seria mais possível prosseguir com as autorizações para os subregistros do imóvel, mesmo porque nesses trechos há elementos da memória ferroviária especialmente valorados pelo Iphan", explicou Henrique Varejão.

Segundo a AGU, o consórcio alegou que o loteamento estava aprovado há mais de cinco anos e o prazo para rever a homologação já havia sido superado. Sem consenso, a empresa ingressou com ação judicial para impedir a SPU de rever o termo de incorporação e a certidão de inteiro teor do imóvel.

"A Justiça julgou o pedido improcedente e extinguiu o processo. Porém, a insegurança jurídica no caso motivou as partes a levar o processo à conciliação", afirmou Henrique Varejão.

Pela redes sociais, o prefeito comemorou.