Porto de Galinhas: A negligência joga fora milhões gastos em publicidade. Artigo por Rodrigo Ambrosio ex-Gestor de Comunicação da Setur
Rodrigo Ambrosio | Publicado em 29/12/2025, às 15h02 - Atualizado às 15h05
Recentemente, a Empetur realizou um grande investimento de promoção turística. Até mesmo um "Roadshow" foi feito percorrendo a Europa e a América do Sul, com milhões de reais gastos para vender nosso litoral como um paraíso de classe mundial. Mas, neste último fim de semana, descobrimos que todo esse esforço pode ser desmontado por criminosos que lincharam dois turistas por causa de R$ 30.
O espancamento de turistas em Porto de Galinhas não é apenas um caso de polícia; é o sintoma agudo de uma doença crônica chamada falta de ordenamento. Enquanto o Estado investe pesado para trazer o turista, a Prefeitura de Ipojuca falha no básico, que é garantir que esse visitante não seja explorado ou até mesmo espancado na praia.
O timing não poderia ser pior. Estamos em dezembro, o momento exato em que as famílias estão decidindo para onde viajarão no verão e no Carnaval. O turista olha as redes sociais, vê um rapaz ensanguentado sendo linchado por barraqueiros e toma uma decisão simples: "Não vou para lá".
O dano reputacional é instantâneo. A repercussão é nacional e a internet não fala de outra coisa. De ontem para hoje, a imagem de Porto de Galinhas sofreu um golpe que sobrepõe todo o esforço e dinheiro que o Estado de Pernambuco investiu na divulgação do destino. Não adianta ter a praia mais bonita se a reputação de insegurança chega ao turista antes mesmo de ele fazer as malas.
Não podemos dizer que fomos pegos de surpresa. O problema dos barraqueiros, dos preços abusivos e da abordagem agressiva não é novidade. O Governo do Estado sabe, e a Prefeitura de Ipojuca sabe ainda mais.
Dados de 2023 da própria Empetur já mostravam que boa parte dos turistas considerava os preços elevados e que a abordagem de ambulantes era a segunda maior reclamação do destino. A tragédia deste fim de semana é apenas a escalada violenta de uma negligência administrativa que permite que esse ecossistema predatório funcione livremente.
A SDS agiu rápido na identificação dos agressores. Mas a raiz do problema está na gestão municipal. Não adianta a polícia indiciar 14 pessoas se, na semana que vem, elas estiverem lá na praia vendendo cerveja e alugando cadeira com autorização da prefeitura.
Por isso a falha maior é de Ipojuca, na falta de ordenamento. É inadmissível que, após um episódio de linchamento, a prefeitura não suspenda imediatamente o licenciamento das barracas envolvidas. Tem que haver suspensão, avaliação e, se necessário, o cancelamento definitivo do credenciamento.
Não há mais tempo para notas de repúdio vazias. O timing turístico exige ação enérgica para ontem. Investir milhões em marketing para trazer o turista e entregá-lo à própria sorte nas mãos de comerciantes despreparados e violentos não é apenas um erro estratégico; é jogar dinheiro público no lixo.
Porto de Galinhas está sangrando sua reputação, e se Ipojuca não assumir sua responsabilidade pelo ordenamento, não haverá "Roadshow" no mundo que salve o nosso verão.
Artigo escrito por Rodrigo Ambrósio, ex-gestor de comunicação da Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco.
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