O Crime Organizado já está no poder

"O Crime Organizado já está no poder" é um artigo do presidente do Sinpol-PE, Áureo Cisneiros

Áureo Cisneiros

por Áureo Cisneiros

Publicado em 08/06/2025, às 08h05 - Atualizado às 08h25

REPRODUÇÃO/ IA
REPRODUÇÃO/ IA

O que se vive hoje em Pernambuco não é mais uma crise comum de segurança pública. Além de um programa com um problema de origem: Falta de diálogo e contrução coletiva, existe a ocupação silenciosa do poder por grupos armados que já controlam territórios, interferem nas eleições e impõem regras onde o Estado se omite.

O crime organizado deixou de ser apenas uma ameaça à ordem pública para se tornar uma força política paralela que, muitas vezes, é mais presente e mais temida do que o próprio poder estadual. Há bairros e cidades em Pernambuco onde o crime dita quem pode ou não se eleger, onde a presença da força policial é uma raridade, mas o domínio do tráfico é constante.

É impossível sem o devido efetivo as polícias estarem presentes da forma devida em nosso estado. Mas é importante frisar: Não estamos falando apenas de violência, mas do poder público ausente e muitas vezes cúmplice do caos que se instala aos olhos de todos. Nesse vácuo, o crime organizado se fortalece. Chega com dinheiro, regras, castigos e diversas condutas sociais.

Substitui a escola que não funciona, o posto de saúde que não abre, o poder público que não se faz presente. E encontra terreno fértil em uma juventude sem oportunidades,sem empregos, cercada pelo medo e sem esperança. Enquanto isso, a Polícia Civil, principal instrumento de investigação e combate ao crime organizado, segue abandonada sem atenção, sem efetivo e sem valorização.

Temos hoje o menor efetivo dos últimos 30 anos! O último concurso realizado (2023/2024) sequer vai repor o número de policiais civis que se aposentarão este ano. A situação é desesperadora. Unidades policiais sem estruturas, delegacias sem padronização e muitas vezes improvisadas em casas comuns, equipamentos obsoletos e praticamente nenhum investimento em inteligência.

É simplesmente impossível enfrentar organizações criminosas sofisticadas com uma polícia sucateada. Todos os resultados são da força sobrehumana dos policiais civis que pagam para trabalhar, se sacrificam usando seus dias de folga para não deixar de servir à população, comprometendo e muito sua saúde física e mental.

Nos presídios, o cenário é ainda mais grave. As lideranças do crime seguem operando de dentro das celas com acesso a celulares. As penitenciárias viraram centrais de comando para assassinatos, extorsões e (pasmem) articulações políticas. E os políticos? Silenciam. Fingem que não estão sabendo. Ou pior: vende-se. Quando o crime influencia candidaturas e elege representantes, ele conquista não apenas as urnas, mas também as canetas que assinam leis, emendas, contratos e nomeações.

É hora de ação! Pernambuco precisa de uma reação firme e estruturada. Valorização real da Polícia Civil, com ampliação do efetivo, tecnologia e reestruturação de carreira. Melhor regramento do sistema político-eleitoral, com transparência total nas campanhas, e punição severa para quem for pego com ligações com o crime. E obviamente controle total dos presídios, com isolamento de líderes.

E uma presença concreta do Estado nas periferias, com escolas de tempo integral, saúde,esportes, lazer, saneamento, urbanização e mediação de conflitos. O povo está cansado de promessas vazias. Quer resultado. Quer segurança. Quer justiça. Ou enfrentamos o crime com coragem e estrutura, ou entregamos o futuro de Pernambuco