Brasil grande potência

Engenheiro José de Araújo Pereira Filho escreve sobre Brasil Grande para o site Jamildo.com

José de Araújo Pereira Filho | Publicado em 10/02/2025, às 16h20 - Atualizado às 16h21

Lula usa boné elaborado por seu marqueteiro Sidônio, para se contrapor ao simbolismo da oposição - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Lula usa boné elaborado por seu marqueteiro Sidônio, para se contrapor ao simbolismo da oposição - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Por José de Araújo Pereira Filho, em artigo para o site Jamildo.com

As eleições dos EUA de 2024 fizeram com que emergisse uma antiga discussão no Brasil: Quais nossos objetivos como nação?

Devemos ser meros coadjuvantes, alinhados automaticamente com os interesses do Ocidente, em particular norte-americanos, ou devemos buscar uma inserção altiva no contexto internacional?

Nesse sentido, busquei verificar na história nacional algumas referências e fixei-me no artigo de João Miguel Villas Boas Barcellos, publicado na revista da Escola Superior de Guerra, n.º 73, de 2020.

O contexto do artigo trata do pensamento político das forças armadas nacionais a partir de 1913, quando os militares criaram a revista “Defesa Nacional”, destinada a estudar e debater questões atinentes à guerra e modernização do aparato militar.

Posteriormente, na década de 1920, houve o “movimento tenentista”, pleiteando a purificação da política frente à “carcomida realidade e corrupção nas relações do poder da República Velha”. Esse movimento, redundou na Revolução de 1930 comandada civilmente por Getúlio Vargas, tendo Goes Monteiro como líder militar.

Diga-se de passagem, que essa foi a única revolução nacional, embora tenham havido outros movimentos mas não de abrangência nacional. Em 1964, foi um golpe militar, bem diferente do que seja uma revolução.

Na década de 1930, Goes Monteiro defendia que o país deveria praticar a política do Exército, não a política no Exército. Defendia ele um Estado forte como meio para o desenvolvimento nacional.

Após a Segunda Grande Guerra, em 1949, foi criada a Escola Superior de Guerra (ESG), essencialmente brasileira, na qual duas correntes se contrapunham:

1 – Nacionalistas: projeto de desenvolvimento nacional com defesa intransigente das nossas riquezas e industrialização;

2 – Liberais: Brasil dependente, alinhamento automático aos EUA, entreguistas das nossas riquezas, país agrícola e subserviente aos interesses econômicos externos.

Os governos de Getúlio e João Goulart foram notadamente nacionalistas, tendo os liberais como ferrenhos opositores visto que defendiam um país mais agrícola que industrial, mais dependente que autônomo.

Foi quando surgiram o IBAD e o IPES, órgãos financiados pelos EUA, que, através de suas campanhas difamatórias, objetivaram derrubar o governo nacionalista brasileiro eleito democraticamente.

Entre 1964 e 1985, os diversos ditadores tiveram comportamentos divergentes quanto ao nacionalismo, iniciando por Castelo Branco, alinhado aos entreguistas enquanto Geisel defendeu uma linha nacionalista enfatizando o projeto de “Brasil Grande Potência”.

Isso mesmo: “Brasil Grande Potência” foi um slogan defendido por boa parte dos militares que governaram o país até 1985. Foi uma continuação da política iniciada no governo de Jânio Quadros e seguida por João Goulart, onde o Brasil tinha uma “Política Externa Independente” (PEI). Os militares a denominarem como “Pragmatismo Responsável”(PR).

Brasil como um novo Estado dos EUA

Chegamos aos dias de hoje e vemos as mesmas correntes.

Um grupo nacionalista, pensando em como fazer um Brasil Grande, e outro pensando em como tornar a américa grande de novo (letras minúsculas mesmo), ou pior, podemos admitir, querendo transformar, o Brasil, em um novo Estado dos EUA.

O ex capitão, que nos desgovernou, admite e alardeia que quer uma base norte-americana no nosso país para nos defender (?), de que?

Quando do golpe parlamentar que destituiu Dilma Rousseff, uma das decisões do novo governo foi permitir que outras nações explorassem o nosso petróleo em águas profundas, transferindo uma tecnologia nacional quase sem custos para países outros.

O governo de Fernando Henrique assinou o tratado de não proliferação de armas nucleares, que dificulta nossas pesquisas na área. Houve um “acidente” em Alcântara (MA) que ceifou a vida da maioria dos nossos cientistas que pesquisavam a construção de um satélite nacional, “acidente” este que deixou desconfiança sobre se foi ou não um atentado provocado, isto é. terrorismo patrocinado pelos EUA. Pode ser uma simples hipótese.

O fato é que há, no Brasil, muitos que não almejam o Brasil Grande Potência, preferindo um caminho para a dependência tecnológica, cultural e econômica. Faz sentido quando os interesses econômicos de um pequeno grupo são atendidos, grupo este que ocupa espaços na mídia e fomenta a desinformação, importa cultura e tenta nos apequenar em frente aos países desenvolvidos.

As fotografias de diversos políticos nacionais nos EUA e aqui, com bonés de propaganda de um presidente americano, nos apequena, nos diminui e serve de estímulo para aqueles que defendem ser, o Brasil, parte do quintal norte-americano. Estes não defendem o Brasil Grande Potência.

Desdenham desta ideia, não se sentem capazes de trabalhar com patriotismo ou nacionalismo. Preferem a submissão ao enfrentamento, a bajulação ao comportamento altivo, a subserviência e o papel de pequeninos.

Porém há resistências internas que sentem a necessidade de lutar contra esses não patriotas, verdadeiros traidores da pátria, talvez até vendidos.

É uma luta árdua, constante e requer ânimo, requer patriotismo, requer o reconhecimento de que sem suor e sem dores, nada pode ser obtido.

E o Brasil, vitorioso, glorioso poderá emergir como Grande Potência, como deseja parcela maior da sociedade.

Para concluir, transcrevo o final do artigo de Barcellos (aquele da Escola Superior de Guerra): 

“O pensamento militar demonstrou-se razoavelmente exitoso na construção do desenvolvimento e modernização brasileira como demonstram variadas abordagens econômicas históricas. Decorrência de que ele sempre teve por trás de si uma ideologia estruturante e, portanto, um Projeto Nacional de Desenvolvimento, privilegiando a industrialização, a urbanização e a integração do território nacional".

"E mais de uma política de intervenção do Estado caso o setor privado se demonstrasse incapaz de prover o crescimento econômico do país".

"Já o pensamento da oligarquia civil aderiu sempre ao liberalismo econômico tão de agrado das potências dominantes, relegando o país a uma posição caudatária e típica de um espaço colonial fornecedor de bens primários para a economia mundial e pasto de interesses e investimentos de exploração primitiva”, afirmou Barcellos.

Que Deus abençoe a todos nós.

PS do site: José de Araújo Pereira Filho é engenheiro