População negra concentra maior parte das mortes violentas no Brasil, diz Anuário

Plantão Jamildo.com | Publicado em 25/07/2025, às 09h54

Ato contra o genocídio da população negra no Brasil - AGÊNCIA BRASIL
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Pretos e pardos seguem disparados como maiores vítimas de mortes intencionais (MVI) no Brasil. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (24), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), no Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025.  Os números mostram que, mesmo com a redução no número total de homicídios no país, a violência letal segue apresentando um viés racial persistente.

No ano de 2024, o país registrou 44.127 mortes violentas intencionais, incluindo homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes decorrentes de intervenção policial. Entre as vítimas, 79% eram pessoas negras — ou seja, pretas ou pardas —, enquanto brancos representaram 20% e indígenas e amarelos somaram 1%. Quase metade das vítimas (48,5%) tinha até 29 anos de idade.

Quando se observam apenas as mortes provocadas por ações policiais, o recorte racial se acentua. Das 6.243 pessoas que perderam a vida em intervenções policiais em 2024, 82% eram negras, segundo o Anuário. A taxa de letalidade policial no grupo entre 18 e 24 anos é a mais alta, com 9,6 mortes a cada 100 mil habitantes. Em adolescentes de 12 a 17 anos, a taxa foi de 2,3 por 100 mil, e entre 25 a 29 anos, foi de 7,3.

Além da predominância racial, o perfil das vítimas da letalidade policial também é marcado pelo gênero: 99,2% eram homens.

Policiais vitimados também são, majoritariamente, negros

O Anuário também lança luz sobre os casos de vitimização policial, quando agentes da segurança pública perdem a vida em confrontos. Em 2024, foram 170 policiais civis e militares mortos em ocorrências violentas. A maioria das vítimas também era negra: 65,4%. Brancos representaram 32,7% dos casos; indígenas e amarelos, 0,9% cada.

Esses percentuais contrastam com a composição étnico-racial das forças de segurança do país. Segundo a pesquisa “Perfil das Instituições de Segurança Pública”, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, negros representam 50,5% dos efetivos das polícias militares e civis no Brasil. Brancos, por sua vez, são 48,5%.

O levantamento também aponta que 98,4% dos policiais assassinados eram homens. Em relação à faixa etária, houve uma distribuição mais homogênea, com destaque para o grupo de 40 a 44 anos, que concentrou 16,8% dos casos. Policiais com mais de 10 anos de serviço foram os mais vitimados.

Feminicídio e violência contra a mulher também têm recorte racial

O Anuário 2025 revelou ainda que as mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio no Brasil. Em 2024, 63,6% das mulheres assassinadas por questões de gênero eram negras. Já as mulheres brancas corresponderam a 35,7% dos casos.

As vítimas, em sua maioria, tinham entre 18 e 44 anos, eram mortas dentro de casa (64,3%) por companheiros ou ex-companheiros (79,8%). As principais armas usadas foram objetos cortantes (48,4%) e armas de fogo (23,6%).

Letalidade policial segue alta

Mesmo com uma queda de 3,1% no número de mortes decorrentes de intervenção policial em relação a 2023 (foram 6.413 naquele ano), a proporção desses casos em relação ao total de homicídios no país cresceu. Em 2024, 14,1% das mortes violentas foram causadas por ações policiais, número superior aos 13,8% de 2023. O Anuário destaca que, quando essa proporção ultrapassa os 10%, há indícios consistentes de uso excessivo da força, com base em pesquisas nacionais e internacionais.

A maior parte dessas mortes (91,4%) foi causada por policiais militares em serviço (4.378 das 4.790 com autoria identificada). Fora do expediente, policiais mataram pelo menos 186 pessoas.

Embora o número total de mortes violentas intencionais no Brasil tenha caído 5,4% em 2024 em comparação com o ano anterior — sendo o menor índice desde 2012 —, o estudo reforça que a violência ainda é seletiva. “O padrão persistente de letalidade policial — especialmente concentrado em alguns estados e marcado por forte seletividade racial, etária e territorial — evidencia que o uso da força por parte do Estado segue sendo um fator estrutural da violência letal no país”, indica o relatório.

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