Múcio revela conversa com Bolsonaro e nega adesão dos militares ao golpe

Letícia Freitas | Publicado em 11/02/2025, às 17h02

José Múcio durante entrevista no Roda Viva - Naja Kouchi/Roda Viva
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O ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio Monteiro, revelou que pediu ajuda ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser recebido pelos comandantes das Forças Armadas durante a transição de governo no final de 2022. 

Múcio explicou que ligou para Bolsonaro, à época solicitando uma imediação porque os comandantes não queriam recebê-lo. A declaração foi dada durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (10). 

"Ele foi meu colega por muitos anos, foi meu liderado quando fui líder do governo no Congresso. Sempre tivemos uma relação muito boa. E eu fui falar com ele: ‘Sou o novo ministro da Defesa, queria que você me ajudasse a fazer uma transição tranquila. Vai ser bom para o novo governo, vai ser bom para o seu governo que está terminando. Você conhece, eu não sou de conflito, de criar problema'”, explicou Múcio.

O ministro comentou que o ex-presidente aceitou ajudá-lo e ligou para os seis comandantes à época, e que o único que se recusou a recebê-lo foi o chefe da Marinha, almirante Almir Garnier.

“Militares evitaram o golpe”

Ainda durante a entrevista, após citar ajuda de Bolsonaro e Forças Armadas, Múcio comentou que os militarem não aderiram à tentativa de golpe. 

O ministro chegou a fazer um agradecimento, pois segundo sua avaliação, o Brasil deve aos militares a não concretização do golpe do dia 8 de janeiro. 

“Do dia 8 até abril, eu me senti órfão. Porque a direita estava zangadíssima, pois os militares não aderiram ao golpe, e a esquerda, muito zangada, achava que os militares tinham criado aquele golpe. Na realidade, nós devemos a eles o fato de o golpe não ter acontecido”, disse. 

Pedido de Lula pela permanência no cargo 

Pela primeira vez, o ministro da Defesa admitiu que o presidente Lula (PT) pediu a ele que permanecesse no cargo. O apelo ocorreu depois que o ministro expressou a intenção de deixar o governo para passar mais tempo com a família.

Múcio revelou que sua vontade de deixar o ministério surgiu no segundo ano do terceiro mandato de Lula. Segundo ele, em 2024, a fase mais “complicada” — referindo-se às consequências dos atos de 8 de janeiro — já havia passado, o que o fez considerar sua saída da Esplanada. Então, veio o pedido do presidente para que ele permanece. 

Segundo o ministro o Lula lhe disse o seguinte: 

“Olha, Múcio, nós estamos numa fase difícil. Somos amigos, eu sei das suas pretensões, que é estar mais à disposição da família e dos amigos, mas eu preciso que você fique, porque estamos com alguns desafios e não queria abrir mais um problema”, afirmou. 

Quando perguntado, no entanto, se permaneceria no cargo até o final do governo, o ministro não confirmou. 

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