Com fim de tarifas de frutas e carnes governo Lula celebra, mas taxação do açúcar afeta Nordeste

Cynara Maíra | Publicado em 21/11/2025, às 12h07

Retirada de diversos produtos do tarifaço ocorre após conversa entre Lula e Trump - Ricardo Stuckert/PR
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O governo dos Estados Unidos oficializou na quarta-feira (20) a retirada da tarifa adicional de 40% sobre diversos produtos agropecuários brasileiros, como carnes, café e frutas.

O governo Lula (PT) celebrou a decisão, já retroativa a 13 de novembro. Apesar disso, produtores do Nordeste ainda estão apreensivos. Isso porque, apesar da liberação das tarifas para manga, principal produto de exportação do Sertão pernambucano, o açúcar continua na lista do tarifaço.

A medida americana libera a exportação de itens como manga, coco, açaí e abacaxi.

Após a conversa telefônica e encontro presencial entre Lula e o presidente Donald Trump, o Ministério das Relações Exteriores atribui o recuo ao avanço dessas negociações.

Para a base governista, o gesto valida a diplomacia atual. O vice-líder do governo na Câmara, deputado Waldemar Oliveira (Avante), classificou a decisão como um reconhecimento da "estabilidade democrática" do país.

"O Brasil voltou a ser tratado como parceiro estratégico. Num cenário global marcado por tensões comerciais, só países que demonstram coerência institucional conseguem negociar com peso real", afirmou o parlamentar.

O "nó" do açúcar e o etanol

Mesmo que tenha melhorado o impacto negativo em Pernambuco, membros da categoria indicam que manter o açúcar no tarifaço seria uma "carta na manga" de Trump. 

Em fala ao portal Movimento Econômico, Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE e da Novabio, afirmou que os EUA tentam forçar o Brasil a reduzir a tarifa de 18% aplicada sobre o etanol de milho americano.

Historicamente, quase todo o biocombustível dos EUA importado pelo Brasil entra pelos portos do Norte e Nordeste. Uma eventual redução tarifária para agradar aos americanos inundaria o mercado regional com o produto estrangeiro, prejudicando as usinas locais.

Segundo Cunha, os EUA são importadores líquidos de açúcar, comprando cerca de 2,5 milhões de toneladas por ano, o que torna a exclusão do produto brasileiro injustificável se não for uma tática de negociação cruzada com o etanol.

A cota brasileira de açúcar para o mercado americano é de 155,9 mil toneladas por ano. Embora pareça pequena diante da produção total, essa fatia é preenchida em 100% pelas usinas do Nordeste, englobando a produção até o Maranhão.

"Só exportamos 60 mil toneladas até agora e os EUA costumam, nessa época, estudar as suplementações. Eles sempre puderam contar com o Nordeste em credibilidade e agilidade", pontua Renato Cunha.

O executivo alerta que diminuir a tarifa no etanol estadunidense seria desastroso para a indústria local.

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