Isenção de Imposto de Importação: Impactos limitados no controle da inflação de alimentos

Jamildo Melo | Publicado em 09/03/2025, às 16h06 - Atualizado às 16h19

Lula expressou preocupação com a inflação dos alimentos e mencionou que não descarta medidas mais drásticas caso as ações já adotadas não surtam o efeito esperado - Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O Centro de Liderança Pública (CLP), que se apresenta como uma organização suprapartidária, avaliou que a isenção de imposto de importação para alguns alimentos, conforme anunciado pelo governo, tem efeito limitado e talvez apenas paliativo no controle da inflação de alimentos.

"A alta de preços está mais relacionada a fatores estruturais, como o comportamento do câmbio e as dinâmicas do mercado agrícola global. Sem uma política cambial ou fiscal mais sólida e previsível, a redução temporária de tributos não é capaz de garantir uma queda consistente no preço dos alimentos a médio e longo prazos", afirma a instituição.

Impactos negativos da medida

Em nota técnica, o CLP alerta para possíveis impactos negativos da medida, como a redução da arrecadação, o aumento do déficit público e a pressão sobre o câmbio. Apesar disso, a entidade destaca a expectativa de que a supersafra de 2025 contribua para a queda dos preços dos alimentos de forma natural, devido ao aumento da oferta interna.

Sobre a isenção de impostos de importação de alimentos

Recentemente, o governo anunciou a retirada do imposto de importação de alguns itens alimentícios como forma de combater a alta de preços. A proposta é ampliar a oferta desses produtos no mercado interno, gerando concorrência e pressionando os preços para baixo.

Embora essa medida possa trazer algum alívio imediato no bolso do consumidor, muitos economistas afirmam que o principal fator de encarecimento dos alimentos tem sido a desvalorização cambial, não apenas os impostos.

Desvalorização cambial e custos de produção

De acordo com a entidade, quando a moeda nacional perde valor frente ao dólar, todos os bens comercializáveis no exterior, como a maior parte dos alimentos, tendem a ficar mais caros dentro do país. Isso ocorre porque, se é possível vender o produto em dólar, o produtor doméstico ajusta o preço interno para não perder competitividade ou margem de lucro.

"Logo, mesmo com isenção temporária de impostos, a pressão sobre os custos de produção e de comercialização permanece alta se o câmbio continuar desfavorável".

Efeitos fiscais adversos

A suspensão dos impostos de importação pode ter um efeito negativo sobre as contas públicas, reduzindo a arrecadação do governo. Esse efeito fiscal adverso pode contribuir para o aumento do déficit público, o que, em última análise, também exerce pressão sobre o câmbio. Investidores percebem uma piora no equilíbrio fiscal e tendem a precificar mais risco, desvalorizando ainda mais a moeda nacional.

Balança comercial e moeda

Ao reduzir impostos de importação, o governo incentiva a compra de produtos estrangeiros, o que aumenta as importações. Se as exportações não crescerem no mesmo ritmo, a balança comercial pode se deteriorar, elevando a demanda por dólares e contribuindo para pressionar o câmbio. Assim, a iniciativa de baratear os alimentos via importação pode se tornar contraproducente se resultar em uma moeda ainda mais fraca.

Expectativa de supersafra em 2025

Apesar dos desafios, há uma expectativa de que a supersafra prevista para 2025 venha a reduzir o preço dos alimentos de forma natural, em função do aumento da oferta interna.

"Nesse cenário, a medida de zerar o imposto de importação pode ser vista como uma tentativa do governo de criar uma narrativa de que seu esforço ajudou a conter a inflação. Se os preços começarem a cair em 2025 por causa da safra abundante, a população pode acreditar que a redução de impostos foi determinante para esse resultado, mesmo que o fator decisivo seja a maior produção agrícola".

Conclusão da CLP

Sem uma política cambial ou fiscal mais sólida e previsível, a redução temporária de tributos não é capaz de garantir uma queda consistente no preço dos alimentos a médio e longo prazos. A expectativa é que a supersafra de 2025 desempenhe um papel crucial na redução dos preços, independentemente das medidas governamentais.

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