Jamildo Melo | Publicado em 18/11/2024, às 16h14
Por Jamildo Melo
Da mesma forma que o Bolsonarismo radical atropelou o PSDB, será que o PT pode perder a hegemonia e ser destronado por uma movimentação semelhante à esquerda, com uma ação mais pragmática?
Eu fiquei com essa impressão depois de ver alguns frames dos protestos em São Paulo, no feriado da República.
O mote foi a defesa da escala de trabalho com seis dias de jornada e um de folga, previstos na CLT.
O protesto foi dominado quase exclusivamente por coletivos de movimentos sociais.
A liderança coube ao recém-criado VAT (Vida Além do Trabalho).
E os militantes gritaram frases desconcertantes.
A coordenadora do VAT em São Paulo, Priscila Araújo, criticou em discurso tanto os bolsonaristas quanto a "esquerda Nutella".
"Quando vocês vão deixar Lênin e Karl Marx de lado e vir para a rua?", provocou ela, que trabalha na área de telemarketing.
"Não venham me ensinar o que é exploração, que eu boto fogo no seu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso]", acrescentou.
Não havia praticamente bandeiras do PT ou das principais centrais, como CUT e Força Sindical, tampouco lideranças destas entidades.
Os poucos políticos presentes eram do PSOL, como os deputados federais Guilherme Boulos e Erika Hilton, que assinou a sugestão da PEC da escala 6x1.
Será uma espécie de Vem para Rua vermelho?
O PT deixou de falar à classe trabalhadora? De fato, o PT parece que não sabe o que fazer.
O ministro do Trabalho inicialmente deu aval e depois recuou.
Nas páginas amarelas de Veja, Edinho Silva, nome de Lula para ser o novo presidente nacional do PT, diz que as lutas identitárias devem continuar, mas só elas não vão reconectar o PT com a sociedade.
"É crucial para o PT entender que há um distanciamento entre o Estado e a população”
Edinho Silva reconhece as dificuldades, diz que o PT nasceu do movimento sindical, só que hoje o mundo é outro.
"Há uma imensa parte dos trabalhadores que não está em regime CLT, mas atuando como PJ ou MEI, e não quer ser formalizada".
"Esse grupo ascendente, de gente que vive de novos serviços que foram aparecendo, votou contra nós nas periferias por não se sentir contemplado por aquilo que temos a oferecer".
Não resta dúvida, a defesa de pautas identitárias, com pouca aderência nesse eleitorado, parece atrapalhar, seja aqui, seja nos Estados Unidos, como deixou claro a eleição de Trump.
No PodCast que gravei com o deputado federal Pedro Campos, liderança jovem do PSB, ele me disse que é uma pauta legítima, que veio para ficar, fruto das transformações da base produtiva e da economia como um todo.
Ele defende que o governo e o Congresso não podem se fechar a essa discussão.
Por aqui, a Fiepe deu o seu recado e disse que discorda da iniciativa.
Lendo a entrevista de Edinho Silva, fica a impressão de que ele erra em ao menos um ponto.
"A esquerda não tem apresentado uma proposta de reforma para promover essa tão necessária aproximação".
O PSOL parece ter encontrado uma bandeira e uma brecha.
Mas o que dá para rir dá para chorar: O deputado estadual de São Paulo Carlos Giannazi já alertava no mesmo ato:
"O único cuidado é não repetir o erro de 2013, quando a onda de manifestações abriu caminho para o surgimento da chamada "nova direita", que resultou no impeachment de Dilma Rousseff e na eleição de Bolsonaro".
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