Transformações e conflitos no PDT Pernambuco: uma análise da atualidade

Jamildo Melo | Publicado em 12/08/2024, às 09h53

Túlio Gadelha deixou o PDT e foi se abrigar na Rede, em federação com o PSOL. Especula-se que em 2026 volte ao PDT - Foto: Reprodução / Redes Socias
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Por Dornelles Vargas (pseudônimo, sob a condição de reserva de fonte), em colaboração enviada ao site Jamildo.com

O PDT Pernambuco enfrenta um período de transição e desafios significativos em 2024, com dificuldades para os presidentes estadual e municipal à frente da sigla.

A recente mudança na composição da Comissão Provisória Estadual, com o Secretário Executivo do Ministério da Previdência Social, Wolney Queiroz, mantendo a presidência, porém sem o comando totalmente de Caruaru, evidencia a dificuldade de organização interna do partido.

Apesar de seu longo tempo à frente do PDT, Wolney não conseguiu estruturar o partido nem convocar o congresso para eleger um Diretório Estadual permanente e orgânico.

Em Recife, a vice-prefeita Isabella de Roldão, agora uma das vice-presidentes da Comissão Provisória Estadual é presidente do Diretório Municipal do PDT/Recife e enfrenta dificuldades semelhantes. Embora o Diretório não seja provisório, também não é orgânico.

A perda de terreno de Wolney e Isabella reflete-se no abandono da estruturação do partido em suas respectivas jurisdições. Em abril deste ano, o deputado Túlio Gadelha (Rede) organizou um evento com pré-candidatos do PDT a prefeito e vereadores de todo o Estado, contando com a presença do presidente licenciado do PDT nacional Carlos Lupi, também Ministro da Previdência Social do Governo Lula.

Antes do evento do PDT organizado por Gadelha, Lupi declarou apoio à pré-candidatura do deputado à Prefeitura do Recife, que acabou não sendo registrada. No entanto, tanto Wolney quanto Isabella optaram por manter silêncio sobre o assunto e continuar com seus cargos na administração de João Campos. Isso inclui Adynara Gonçalves, Secretaria de Trabalho e Qualificação Profissional da Prefeitura, indicada pelo presidente estadual. O objetivo claro era preservar a aliança com o PSB.

Para Isabella, essa posição é compreensível, dada sua função como vice-prefeita. Ambos os líderes sabiam que, após o rompimento do PSB de Fortaleza com o PDT — que incluiu a aceitação dos dissidentes trabalhistas — não havia condições objetivas para formar a Federação que se pretendia entre os dois partidos.

Além disso, a manutenção das alianças nas capitais, que são de grande importância para ambos os partidos, tornou-se inviável. Fortaleza, sob a liderança de José Sarto (PDT), que já teve José Élcio do PSB como vice e agora está no PSDB, e Recife, sob a liderança de João Campos (PSB), com Isabella como vice-prefeita, representam as principais joias políticas de cada partido.

A aliança com o PSB fez o PDT encolher em Pernambuco. O partido não tem vereadores na capital, deputados estaduais ou federais, senadores, nem prefeito em nenhum município do estado. A perda de força de Wolney e Isabella interna e externamente é evidente.

Apesar de o PDT ocupar cargos na gestão do PSB nos últimos quatro anos, conseguiu impor uma derrota simbólica aos socialistas, que, em 2024, não contarão com o tempo de propaganda eleitoral e o fundo eleitoral que tiveram dos trabalhistas em 2020.

Em Caruaru, Zé Queiroz, uma figura histórica e fundamental do PDT, é o criador e Wolney é a sua criação. Caso se eleja dará um novo fôlego ao presidente estadual.

Em outras cidades de destaque onde o PDT concorre, nenhum dos candidatos é fruto da construção dos dois presidentes. Para as eleições de 2024, Isabella de Roldão sequer construiu uma chapa de vereadores para o PDT em Recife. Deixando o partido a deriva, não fortalecendo nem a si mesma.

Embora nunca tenha causado problemas para o prefeito da capital, Isabella se deixou encantar pelo poder transitório. Isso se reflete na sua votação nas eleições de 2022 para deputada federal: 8.755 votos, quase igual aos 8.480 votos de 2012 para vereadora. Sua melhor votação foi em 2014, com 33.016 votos para deputada federal longe do PSB.

Esses eventos justificam as mudanças realizadas pelo PDT nacional na Comissão Estadual (provisória) de Pernambuco, que estará em vigor até o final de 2024.

Com a necessidade de superar a cláusula de barreira em 2026, a Direção Nacional percebeu pragmaticamente que os dois principais líderes do Estado não conseguiram cumprir a tarefa essencial de organizar o partido, e o cenário permanece desafiador em 2024.

Entre os novos dirigentes estão...

Ismênio Bezerra: Secretário da Criança e Juventude de Pernambuco, que é de confiança do Ministro Lupi, do Presidente Nacional (interino) do PDT Dep. André Figueiredo, além de estar próximo à governadora.

André Carvalho: candidato do PDT em Vitória de Santo Antão e Hugo Souza, ligados ao deputado Túlio Gadelha.

Fábio Fiorenzano de Albuquerque e Maria Rebeka Linha de Oliveira. Respectivamente, o marido e a chefe de gabinete da vice-prefeita Isabella.

Essas mudanças visam revitalizar o partido e melhorar sua performance política em Pernambuco. A dinâmica política não permite vácuos. Quando eles ocorrem, inevitavelmente serão ocupados.

O pior desses vácuos é o de liderança, pois ninguém se perpetua no cenário político sem organização, força política, mediação de conflitos, acomodação e construção partidária, especialmente em um partido de esquerda.

Essa lacuna de liderança tem sido preenchida por figuras como o deputado Túlio Gadelha, que vem assumindo um papel central na reorganização e revitalização do partido no estado.

A possível e provável saída do deputado Túlio Gadelha da Federação para concorrer pelo PDT em 2026 seria um ganho para a estratégia política e eleitoral. Teria um deputado de mandato voltando para casa onde se formou e construiu politicamente. Mas isso se o deputado Túlio não recuar mais uma vez.

O novo mosaico da Comissão Provisória Estadual do PDT enfrenta o desafio crucial de promover unidade, coesão e crescimento do partido. É uma oportunidade para revitalizar a base partidária e reafirmar a relevância do PDT no cenário político estadual.

Na capital, a ausência de candidaturas em 2024 não deixa nada a ser resgatado. Há esperança de que o PDT possa renascer em Pernambuco, recuperando sua influência no cenário político. Este é o momento de transformação e renovação, e o sucesso dependerá da capacidade do partido em unir forças e traçar um novo rumo para o futuro.