Pedro Alcântara: A quem interessa o apagamento do legado do PT em Recife?

Jamildo Melo | Publicado em 24/04/2025, às 16h39 - Atualizado às 19h31

- Pamella Biernaski/Divulgação
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Uma matéria publicada recentemente aqui no site Jamildo.com mostrou o incômodo de alguns petistas com as críticas que o ex-prefeito João Paulo fez à atual gestão da prefeitura, avaliada por ele como mais favorável aos ricos e à classe média. 

Na reportagem, dirigentes do partido, “em off”, exaltam a popularidade de João Campos, louvando o sucesso de sua gestão, e, pasmem, partem para ofensas contra o ex-prefeito do PT.

É de causar espanto, mas, infelizmente, não é a primeira vez que isso ocorre.

Na verdade, é um fenômeno antigo: sempre que surge uma liderança afirmando o PT na cidade, gente do próprio partido, sempre em “off”, se presta a estender um tapete amarelo para o PSB, atacando justamente a herança petista em Recife.

O curioso é que isso só ocorre com o PT. Se alguém quiser falar do legado da gestão de Jarbas Vasconcelos como prefeito, por exemplo, destacando a importante criação dos Prezeis, ninguém aparece imediatamente para se contrapor.

A vigilância crítica só é ativada quando alguém elogia o PT ou lembra dos feitos de João Paulo como prefeito. Já repararam?

A razão é simples: o PT continua sendo uma força viva, capaz de mobilizar a memória afetiva e política do povo recifense, conectando e contrapondo passado e presente, o que pode ser convertido, ainda, em força política.

Alguns setores políticos da cidade parecem determinados a impedir que isso ocorra. Para esses soa como um insulto lembrar as grandes gestões do PT em Recife. Eles precisam isolar o PT, calá-lo, impedir que ele fale plenamente com sua base social na cidade, para que suma do mapa como ator político de peso do campo progressista, numa cidade onde a esquerda é eleitoralmente relevante.

Que isso seja uma tática dos outros, tudo bem. Mas que apareça na boca de alguns do nosso próprio campo político - ainda que de uma minoria - é um escárnio. Tão esdrúxulo que tal atitude só pode ser feita “em off”.

Para explicar um pouco nossa força política e simbólica, estimulemos a memória do numeroso e lúcido público leitor do blog do Jamildo.

Enquanto Lula começava a mudar o Brasil, a gestão do PT em Recife seguiu seu exemplo e inverteu prioridades, cuidando dos que mais precisam. Entre 2001 e 2008, por exemplo, foram apenas - ainda assim tristes - 8 mortes por deslizamento nos morros. Só em 2022 tivemos 51 mortes.

O PT fez a maior política de participação popular da história do Recife, dando voz à periferia com o Orçamento Participativo, interrompido pelas gestões posteriores.

O PT criou o SAMU, a Academia da Cidade, construiu mais de 4 mil habitações com recurso próprio da prefeitura, pagava um auxílio moradia que, a valores de hoje, equivaleria a R$ 534 (o atual é R$300).

Os governos do PT triplicaram o orçamento da educação em Recife e garantiram fardamento completo, merenda nas férias e escola aberta nos finais de semana.

Os governos do PT efetivaram os agentes comunitários e aumentaram em 75% o número de profissionais de saúde, garantiram auxílio psicológico a vítimas de deslizamento de morros e incluíram odontólogos nos Postos de Saúde da Família (PSF).

Nossos governos criaram o Conselho Municipal das Mulheres e o centro Clarice Lispector, além de terem democratizado e descentralizado o carnaval. E a lista segue e seria enorme.

O legado petista no Recife é, sem dúvida, o maior patrimônio político de toda a história do partido em Pernambuco. E ele não está apenas no passado: segue vivo no cotidiano dos recifenses, a partir das políticas que criamos. Por isso o PT permanece forte, e lideranças como João Paulo ainda são lembradas e queridas pela população.

O fato de lideranças fazerem críticas pertinentes aos governos do PSB não deveria gerar tanto incômodo, afinal, não há grupos e governos intocáveis, e estamos em uma democracia. Todos somos criticáveis, inclusive as gestões do PT, evidentemente. Não se deve confundir crítica com animosidade, assim como não se deveria confundir aliança com submissão.

O processo eleitoral interno que se aproxima no PT será uma boa oportunidade para a afirmação do nosso legado e para trazer o debate à luz do escrutínio público. Por isso, temos convocado nossa militância para um amplo e profundo debate sobre nosso legado, sobre nosso papel no presente e no futuro do Recife. E faremos isso sempre em ON, de forma transparente, com respeito à nossa base social, com autonomia e com a altivez que sempre caracterizou o Partido dos Trabalhadores.

Se para alguém interessa o apagamento do PT no Recife certamente não é ao povo da
cidade, muito menos aos petistas. Vamos à luta! Para defender nossa história. Para afirmar nossas conquistas. E para construir um outro futuro possível.

João Campos João Paulo PT

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