Fala de Mano Medeiros sobre autismo ainda repercute

Jamildo Melo | Publicado em 02/09/2024, às 15h26

- Foto: Freepik
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Prefeito Mano Medeiros, autismo não é moda

Por Jair Pereira, jornalista, em artigo enviado ao Blog do Jamildo

Prefeito Mano Medeiros. Não sou cidadão de Jaboatão, não voto em Jaboatão, não sou filiado a partido político. Mas sou tio de uma criança atípica. E me permita lhe dizer: sua recente declaração, à Rádio Folha de Pernambuco, de que "autismo tá na moda agora" foi de uma violência sem precedentes às famílias de crianças atípicas.

Não prefeito. Não é uma questão de moda, ou modismo. A expressão correta, dentre outras aceitas, é "pessoa atípica ou neurodivergente. Pessoas cujo desenvolvimento neurológico ou intelectual são atípicos, porque se diferem do que é considerado padrão".

Mas entendo o conceito que o senhor considera e tem como máxima. Acompanhando suas redes sociais, constatei quer o senhor tem filhos. Eles não são atípicos, confere? Eles, como certamente diria o senhor, "são normais e respeitam o padrão social comum. Eles não são "moda" ou "modinha", não é?

Todavia prefeito, assim como seus filhos, que evidentemente tiveram o privilégio do acolhimento familiar, as crianças com desenvolvimento atípico, aquelas que têm algum comportamento fora dos padrões normais e que podem ter origens diferenciadas como deficiência intelectual e transtornos na aprendizagem, elas também precisam e merecem ser escolarizadas na perspectiva da educação inclusiva, sabia?

Não. Certamente o senhor não sabe. Fato. Até por que, na própria entrevista, sustentada pela frase preconceituosa e discriminatória que o senhor verbalizou, de viva voz, aos horrores dos nossos ouvidos, o senhor mesmo reconhece e admite que sua gestão "tem uma deficienciazinha" nesse assunto de cuidados na área de saúde pública.

Prefeito Mano Medeiros, atribuem a Aristóteles, a seguinte frase: "Nosso caráter é o resultado da nossa conduta". A autoria, sendo dele ou não, convenhamos, ela é emblemática nestes tempos difíceis de convivência social. Sinceramente, apesar de suas palavras insensatas, não quero acreditar em tamanha desumanidade de alguém que está à frente da segunda maior cidade do Estado. Sobretudo, de alguém que circula entre templos e igrejas se apresentando como cristão.

Na dúvida sobre o preconceito do que seja autismo, indico ao senhor refletir sobre essa outra passagem literária, de autor universalmente conhecido: "é necessário sair da Ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não sairmos de nós".

Ou, então, atentar para esse outro paradigma, também clássico: "É a civilidade que sustenta uma sociedade. A propriedade é o interesse pelos outros. Quando isso é perdido, os portões do inferno se abrem por um instante e a ignorância reina".