Como a oposição errou no Recife e fortaleceu João Campos

Da redação | Publicado em 18/09/2024, às 11h43

João Campos é candidato à reeleição do Recife - Foto: Rodolfo Loepert / PCR
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Veja abaixo o desabafo de um aliado governista, que pede para não ter o nome citado

A política pernambucana, especialmente em Recife, tem sido dominada pelo PSB há mais de 20 anos. A candidatura de João Campos à reeleição como prefeito do Recife reflete o controle contínuo do partido na cidade, mas também expõe uma série de erros da oposição, que permitiu sua consolidação como uma figura política quase imbatível.

Com uma estratégia eficiente nas redes sociais e sem oposição articulada, João Campos cresceu ainda mais. Ao analisarmos o cenário local, vemos que essa hegemonia persistente do PSB também se deve à inércia tanto da direita bolsonarista quanto do governo estadual liderado por Raquel Lyra.

A ascensão de João Campos e a ausência da oposição

Nos últimos dois anos, João Campos executou uma pré-campanha inteligente e consistente, utilizando as redes sociais como sua principal plataforma de comunicação. Seu crescimento digital foi exponencial, passando de 200 mil seguidores para mais de 2 milhões, o que fez dele uma referência para grande parte dos recifenses. Enquanto isso, a oposição — tanto Raquel Lyra quanto a direita bolsonarista — optou por se afastar do debate público.

Essa ausência, no entanto, não foi fruto de uma estratégia calculada.

Líderes bolsonaristas, frustrados por não terem conquistado espaço no governo estadual, decidiram se retirar do cenário político, acreditando que isso prejudicaria apenas o governo de Raquel. Esse cálculo se mostrou um grande erro.

A falta de oposição ativa fortaleceu ainda mais João Campos e o PSB, que pôde atuar sem grandes obstáculos. Ao se omitir, a direita bolsonarista não só enfraqueceu sua própria base, como também deixou o caminho livre para o crescimento do PSB, contribuindo para o fortalecimento da hegemonia socialista na cidade.

A falta de estratégia de Raquel

Enquanto João Campos avançava, o governo estadual de Raquel Lyra não tomou qualquer iniciativa para desarticular ou enfraquecer a base do PSB. Com o poder que detinha no estado, Raquel poderia ter utilizado sua influência para fragmentar a base de João Campos na Câmara dos Vereadores do Recife, mas não fez isso. Ela tinha “a faca e o queijo na mão”, mas escolheu não agir.

Um exemplo claro de como essa fragmentação poderia ter sido conduzida seria por meio de articulações políticas junto a lideranças locais e aproveitamento de divisões internas entre os vereadores que compõem a base de João Campos. Além disso, Raquel também falhou em enfrentar as estratégias de comunicação do PSB nos meios de comunicação e na mídia local, permitindo que o partido continuasse a dominar o cenário político sem grandes resistências.

A influência do PSB dentro da gestão estadual

Apesar de não estar oficialmente à frente do governo estadual, o PSB ainda mantém uma forte presença na estrutura do governo de Pernambuco. Muitas áreas estratégicas continuam sob influência de pessoas ligadas ao partido, e isso fortalece, direta ou indiretamente, as campanhas de João Campos e seus aliados.

Raquel não tomou medidas eficazes para “desmamar” o PSB dessas estruturas de poder. A falta de ações contundentes para afastar o partido da máquina pública estadual permite que João Campos continue a se beneficiar dessa influência para fortalecer suas campanhas. Esse ponto, pouco discutido publicamente, é crucial para entender como o PSB mantém sua força política, mesmo fora do governo estadual.

A campanha ineficaz da oposição

A ausência de articulação não se limitou aos dois últimos anos. Durante a campanha eleitoral de 2024, a oposição demonstrou uma falta de coesão e estratégia. Gilson Machado, ex-ministro do Turismo e candidato bolsonarista, foi assertivo em focar em temas polêmicos como a questão das creches, mas sua execução de campanha foi desleixada, sobretudo no aspecto jurídico, o que deu a João Campos oportunidades para obter direitos de resposta que consumiram tempo precioso do guia eleitoral.

Daniel Coelho, conhecido por sua habilidade retórica e oposição incisiva ao PSB, falhou em trazer um discurso inovador. Sua campanha "Recife Sem Filtro" pouco agregou ao debate político ao focar em problemas já amplamente conhecidos pelos eleitores.

Para conquistar a atenção do eleitorado, era fundamental que Daniel expusesse aquilo que o público não enxerga: os bastidores da má gestão, escândalos pouco divulgados e áreas negligenciadas pela administração de João Campos.

Ao não destacar questões mais recentes e menos visíveis, como irregularidades nas creches e falhas administrativas ocultas, sua campanha perdeu alcance. Sem novos elementos capazes de impactar a percepção do eleitor que, mesmo ciente dos problemas da cidade, optou por João Campos, a campanha de Daniel Coelho acabou se tornando irrelevante no cenário eleitoral.

Mais erros estratégicos de Raquel

Raquel Lyra cometeu outros erros que fortaleceram o PSB, já na pré-campanha. Além de não se consolidar como uma oposição ativa, a governadora afastou aliados que poderiam ter sido importantes para sua gestão. Um exemplo foi o destrato de um prefeito do MDB, o que resultou na perda do apoio de um partido chave para João Campos. (Referência aqui a cidade de Vitória de Santo Antão)

Outro erro crucial foi a perda do apoio do União Brasil. Mendonça Filho, presidente do partido no Recife, liberou sua base eleitoral e, posteriormente, “entregou” o apoio formal do União Brasil a João Campos, sem que Raquel Lyra tentasse impedir esse movimento.

O PSB rumo ao governo do estado?

A oposição foi ausente e achou que 2 meses de campanha seriam o suficiente para enfrentar 2 anos de campanha de João. Embora o cenário atual sugira uma possível retomada do PSB ao governo do estado, isso ainda não é uma conclusão definitiva.

Raquel Lyra e a oposição ainda têm tempo para se reorganizar e aprender com os erros desta eleição. Isso exigirá, contudo, uma estratégia política mais coesa e ações mais decisivas, tanto na articulação política quanto na comunicação pública.

A falta de uma oposição eficaz e a incapacidade de Raquel de articular uma estratégia sólida contra João Campos permitiram que o PSB não apenas mantivesse seu controle em Recife, mas também se posicionasse para disputar o governo estadual em 2026. João Campos, ao que tudo indica, será reeleito e sairá dessa eleição ainda mais fortalecido, representando uma ameaça real ao projeto de reeleição de Raquel Lyra.

Se a oposição quiser se manter competitiva, será essencial que novas estratégias sejam implementadas. Continuar repetindo os erros do passado poderá, ironicamente, devolver o poder ao PSB, partido que governou Pernambuco por duas décadas.

João Campos Eleições 2024 Recife

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