Brasil em 2026: Desafios entre inflação, juros e crescimento

André Braz | Publicado em 13/10/2025, às 08h11 - Atualizado às 09h18

Cenário econômico nacional gera incertesas em especialistas - Jamildo.com
COMPARTILHE:

Por André Braz, em artigo enviado ao site Jamildo.com

A economia brasileira enfrenta um dilema clássico: como conciliar o controle da inflação com a necessidade de estimular o crescimento? Esse desafio é reforçado pelo desencontro entre política fiscal e política monetária.

Embora pareçam atuar em direções diferentes, ambas influenciam os mesmos objetivos, estabilidade de preços, geração de empregos e expansão da renda. Quando não caminham juntas, aumentam a incerteza e atrasam os resultados esperados.

Mercado de Trabalho e Consumo

Nos últimos meses, a taxa de desemprego no Brasil recuou para 5,6% no trimestre encerrado em julho de 2025, o menor nível da série histórica iniciada em 2012, segundo a PNAD Contínua/IBGE.

Em princípio, esse dado é positivo: mais pessoas empregadas significam maior consumo e maior dinamismo econômico. No entanto, há um contraponto relevante, o endividamento das famílias.

De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), em agosto de 2025, 30,4% das famílias possuíam contas em atraso, e 12,8% afirmaram não ter condições de quitá-las, ambos recordes históricos.

O avanço da inadimplência — isto é, a incapacidade de honrar dívidas — ameaça reduzir o consumo nos próximos meses e pode enfraquecer o ritmo da atividade econômica.

Inflação, Juros e Gastos Públicos

Se o endividamento das famílias freia o consumo, por que a inflação continua acima da meta?

A resposta está no gasto do Governo. Assim como as famílias, o setor público também gasta, mas diferentemente delas, seus gastos movimentam toda a economia.

Ao expandir despesas, o Governo estimula a demanda e, indiretamente, mantém a inflação pressionada.

É nesse ponto que se evidencia a falta de sintonia entre as políticas fiscal e monetária.

Esse choque de objetivos desacelera o ajuste da economia: os juros permanecem altos por mais tempo, o crédito fica caro, os investimentos diminuem e o desemprego tende a subir.

Dívida Pública e Câmbio

Juros elevados também pesam sobre as contas públicas. Quanto mais caro o serviço da dívida, maior a necessidade de emitir títulos para financiá-la. Isso amplia a desconfiança sobre a sustentabilidade fiscal do país.

A incerteza fiscal enfraquece a confiança dos investidores e contribui para a desvalorização do real frente ao dólar. Esse movimento aumenta o chamado pass-through cambial — o repasse da alta do dólar para os preços internos —, criando mais pressão inflacionária.

O Brasil só terá condições de equilibrar inflação, juros e crescimento em 2026 se houver maior coordenação entre política fiscal e monetária. A expansão desordenada dos gastos públicos, ao mesmo tempo em que se mantêm juros elevados, tende a gerar um círculo vicioso: crescimento anêmico, dívida crescente, câmbio desvalorizado e inflação resistente.

Avançar para 2026 com mais estabilidade exigirá alinhar prioridades, conter incertezas e buscar um caminho de crescimento sustentável. Caso contrário, o país pode se ver preso em uma trajetória de baixo dinamismo econômico e alta vulnerabilidade fiscal.

André Braz é professor de Economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

Juros Inflação crescimento

Leia também

Confiança na economia avança, mas maioria vê cenário estagnado aponta pesquisa Pulso Brasil


Economia do Nordeste cresce 2,4% no primeiro semestre de 2025


BNB injeta R$ 3,67 bilhões na economia de Pernambuco no primeiro semestre