Jamildo Melo | Publicado em 13/08/2024, às 15h24
Angeli, conhecido por seu humor ácido e traço inconfundível, é um cartunista que se destaca tanto na charge política quanto na crítica de costumes. Seus personagens icônicos, como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Wood & Stock e os Skrotinhos, marcaram gerações dos anos 1970, 80 e 90 com sua irreverência e crítica social.
Agora, parte dessa produção chega ao Instituto Moreira Salles (IMS) para compor a Coleção Angeli. Com a aquisição, o IMS tem o direito de divulgar a obra de Angeli, enquanto os direitos autorais permanecem com o cartunista.
A Coleção Angeli será composta por 2.100 itens, incluindo 700 charges, 700 tirinhas e 700 ilustrações originais, acompanhados por seus esboços. Angeli, conhecido por sua meticulosidade, muitas vezes reiniciava projetos do zero para alcançar a perfeição. Esse processo de criação é valioso para pesquisadores e admiradores de sua obra. Além dos originais, o IMS também receberá um grande número de trabalhos digitalizados.
Etapas da incorporação ao IMS
A produção será incorporada ao IMS em etapas. O primeiro grupo, as charges, já foi adicionado ao acervo. No final deste ano, o IMS receberá as tirinhas, e em meados de 2025, as HQs e ilustrações. A seleção foi feita pelos profissionais do IMS, com a colaboração de Carolina Guaycuru, esposa de Angeli.
Aposentadoria e legado de Angeli
Angeli, que foi diagnosticado com uma doença neurodegenerativa há cerca de quatro anos, anunciou sua aposentadoria em abril de 2022, encerrando uma carreira de 65 anos. Na Folha de S.Paulo, onde trabalhou por quase cinco décadas, publicou mais de 20 mil charges e tirinhas. A tira “Chiclete com Banana” fez tanto sucesso que se tornou uma HQ, elevando Angeli ao status de celebridade pop.
Preservação da obra de Angeli
Carolina Guaycuru destaca a importância do acordo com o IMS para a preservação da obra de Angeli. “Ele acompanhou as mudanças comportamentais no país, desde a ditadura até a redemocratização. Suas charges e tirinhas refletem essas transformações políticas e culturais. Apesar de ser organizado com seu acervo, uma família não consegue cuidar de tudo e torná-lo acessível ao público”, observa ela.
Reação dos filhos de Angeli
Pedro Angeli e Sofia Angeli, filhos do cartunista, consideram empolgante a chegada da Coleção Angeli ao IMS. “Nosso pai é um punk, um underground, alguém que nunca estaria em uma instituição como o IMS. Mas ele entendeu a importância da preservação. Sua obra é única e fala da história política e social do Brasil. Estamos felizes que ela será bem cuidada e exposta para futuras gerações”, diz Sofia.
A virada de Angeli rumo à preservação profissional aconteceu com a ida do acervo de Millôr Fernandes para o IMS, uma grande referência e inspiração para ele. Durante a montagem da exposição “Millôr: obra gráfica” no IMS Paulista, em 2018, Angeli começou a pensar no futuro de sua produção.