Imediatismo, superficialidade e influência falsa: uma sociedade em colapso intelectual

O advogado e articulista Otávio de Oliveira escreve sobre os percalços e imediatismo da vida moderna a partir de um ensaio sobre a virtude esquecida

Otávio de Oliveira | Publicado em 21/07/2025, às 14h23 - Atualizado às 14h59

Otávio de Oliveira é advogado e escritor nas horas vagas - Arquivo pessoal/Divulgação
Otávio de Oliveira é advogado e escritor nas horas vagas - Arquivo pessoal/Divulgação

Por Otávio de Oliveira, em artigo especial para o site Jamildo.com

Respostas irrefletidas às demandas tornaram-se sintomas de uma sociedade acelerada e ávida por reconhecimento tão imediato quanto efêmero.

Os áudios devem ser ouvidos em velocidade máxima, porque não mais se concebe desperdiçar tempo. Não se consomem filmes longos, porque entediam os destinatários. Os episódios das séries são assistidos de maneira fracionada.

Os estímulos visuais constantes nas redes sociais entregam a cada quarto de minuto conteúdos que transitam da culinária francesa à política internacional.

O cérebro é bombardeado a todo instante. Os livros – aliás, há ainda quem os leia? – devem conter no máximo trezentas páginas, porque o que sobeja afigura-se desnecessário.

Nessa sociedade devota ao imediatismo remanesce-se, entretanto, o predicado da serenidade: silenciosa virtude de quem domina os impulsos e resiste ao anseio do agora, permanecendo firme na trilha exigente e contínua do desenvolvimento.

Nas mais variadas searas da cognição humana, o profundo aprendizado exige tempo. Deve-se empenhar horas de dedicação sem a qual a superficialidade se evidencia.

Quando inexiste base sólida os erros multiplicam-se: o médico prescreve posologia inadequada; o advogado não aduz tese correta; o engenheiro falha no cálculo; o psicólogo, no afã de auxiliar, agrava a dor.

O cenário descrito para essa sociedade recrudesce quando especialistas perdem sucessivamente espaço para os carismáticos, para quem dança em frente à tela do celular – performers - e para quem, na superficialidade, transmite a sólida imagem de profundidade e de domínio.

Dominam o gesto, mas não o conteúdo. Essa sociedade, contaminada pela pressa, pede socorro.

Os cidadãos dessa sociedade não mais conseguem distinguir o real do ilusório, o conhecimento da bravata e o proselitismo insípido do conteúdo.

O falso transformou-se em influência. A epidemia está instaurada, disseminada e sem controle.

A vacina – reflexão, equilibro, rigor, silêncio - necessária ao desenvolvimento intelectual humano
revelou-se insuficiente para essa sociedade e a busca pelo imediatismo venceu. Nessa guerra invisível, porém sintomática, a sociedade foi brutalmente derrotada.

Aos derradeiros resilientes que desenvolveram anticorpos, resta a esperança: que essa sociedade reencontre o valor da profundidade antes de ter de aprender com o alto custo do falso travestido de convicção.

Afinal, como lembra Diderot, não há grande gênio sem um toque de paciência.

Otávio de Oliveira é advogado especialista em consultivo e contencioso societário pelo Insper/SP