Ana Luiza Melo | Publicado em 29/09/2025, às 11h16 - Atualizado às 11h28
O produtor e exportador Alex Tenório alertou para as graves consequências do tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre a importação de produtos brasileiros, com foco direto na manga produzida no Vale do São Francisco.
Segundo Tenório, "o pior ainda está por vir", visto que os Estados Unidos consomem 50% de toda a manga produzida na região no segundo semestre. Os impactos, conforme o produtor, se estenderão da colheita ao crédito, afetando toda a extensa cadeia produtiva local.
O Vale do São Francisco, que abrange áreas da Bahia e Pernambuco, responde por cerca de 90% das exportações brasileiras de manga, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
A região, que gera mais de 250 mil empregos na agricultura, é a de maior produtividade no país.
As projeções de Alex Tenório indicam uma queda no faturamento e uma dimensão das perdas que "chegará nos próximos meses", citando relatos de empresas que já estariam deixando a fruta no pomar sem colher.
O prejuízo alcança não apenas o produtor, mas também a logística, os operadores portuários e a indústria de embalagens.
A situação é agravada pelo já alto custo operacional no Brasil e pelos gargalos logísticos.
Tenório exemplificou que, em certas épocas, a logística pode absorver a maior parte do retorno financeiro da manga, mencionando a venda da caixa na Europa por 4 euros, com 3 euros sendo custo logístico.
O tarifaço, ao reduzir as opções de mercado, pressiona também as operações financeiras. "Com a redução das opções de mercado, o produtor perde o crédito, dando início a uma bola de neve. Há queda no emprego e toda cadeia funciona de forma mais lenta", comentou o empresário.
A taxação de 50% é considerada desproporcional para a manga, um produto de baixo valor agregado, dificultando que o produtor absorva o custo.
Além disso, a fruta que seria destinada aos EUA deve ser realocada para outros mercados, como o europeu, ampliando a oferta e desvalorizando o produto.
Segundo Tenório, a "desconfiança" gerada pelo cenário já estaria impactando o manejo das culturas e a qualidade da fruta.
O primeiro semestre já havia sido desafiador para os agricultores da região devido ao aumento da oferta de manga de países como Peru e República Dominicana, conforme o produtor Alex Tenório.
A expectativa de recuperação no segundo semestre foi frustrada pela decisão política de taxação americana.
Em 2023, o Brasil exportou 266 mil toneladas de manga, com os Estados Unidos sendo o segundo maior comprador da fruta, atrás da União Europeia.
O pico da safra do Vale do São Francisco ocorre justamente no segundo semestre, período que agora sofre a maior pressão.
Outros gargalos do setor incluem a escassez e qualificação da mão de obra e o cumprimento do Limite Máximo de Resíduos (LMR) de defensivos.
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