Cynara Maíra | Publicado em 17/12/2025, às 10h58 - Atualizado às 11h44
O Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE) divulgou nota de repúdio nesta quarta-feira (17) criticando o acordo entre os governos federal e estadual para a concessão do Metrô do Recife.
A entidade classifica a decisão como uma "afronta ao povo pernambucano" e acusa o presidente Lula (PT) de agir sem diálogo com a categoria, historicamente alinhada à sua base de apoio.
O posicionamento ocorre um dia após o anúncio oficial no Palácio do Planalto, em que o Governo Federal divulgou um aporte de R$ 4 bilhões para recuperar o sistema e prepará-lo para uma Parceria Público-Privada (PPP).
Segundo o sindicato, a estratégia representa um "grave equívoco político e administrativo" e coloca em risco a segurança dos usuários ao apostar em soluções que consideram paliativas.
"Tratar um sistema essencial como o metrô do Recife dessa forma é uma irresponsabilidade com a vida da população usuária. O risco iminente de um acidente grave, inclusive com vítimas fatais, foi praticamente anunciado", diz o texto assinado pelo presidente da entidade, Luiz Soares.
O ponto da divergência está no modelo de investimento. Apesar do governo federal prometer R$ 150 milhões imediatos para reparos e compra de trens, o sindicato enxerga o ato como "improvisação".
A nota do Sindmetro critica a aquisição de 11 composições usadas de outros estados, classificando-as como "sucateadas" e inadequadas para resolver o problema estrutural da rede.
Para os metroviários, a única saída viável seria o investimento público direto e a manutenção da gestão estatal, com tarifa zero para a população. A categoria argumenta que a transferência para a iniciativa privada priorizará o lucro em detrimento da qualidade do serviço.
Pelo modelo apresentado em Brasília, o metrô passará por um processo de estadualização transitória, gerido pelo governo de Pernambuco, mas operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) até o leilão.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conduzirá a modelagem da concessão, com licitação prevista para o final de 2026.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, defendeu que o aporte federal de R$ 4 bilhões servirá para modernizar a infraestrutura antes da entrega ao parceiro privado. A governadora Raquel Lyra (PSD) também sustentou que o Estado não teria capacidade fiscal para arcar com os custos sozinho, tornando a parceria com a União indispensável.
Em novembro, os metroviários entraram em greve após um incêndio em um trem da Linha Centro. Na ocasião, o sindicato já havia apresentado um plano emergencial de recuperação que exigia verbas imediatas, e não promessas de longo prazo vinculadas à privatização.
Em entrevista recente ao PodJá – O Podcast do Jamildo, Luiz Soares já havia antecipado a resistência à concessão. "O Metrô é do povo", afirmou o líder sindical, rejeitando qualquer modelo que retire a gestão da esfera pública. Veja o episódio: